São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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Bagdá tenta revitalizar sua via principal

Por RIYADH MOHAMMED e JOHN LELAND

BAGDÁ - Alguns urbanistas do Iraque não querem deixar ao acaso o aspecto que o país terá depois que as forças norte-americanas forem embora. Trabalhando com a Prefeitura e o conselho provincial de Bagdá, engenheiros prepararam o maior projeto de reconstrução no país desde a invasão liderada pelos EUA, em 2003, um plano de US$ 5 bilhões para revitalizar a principal rua da cidade.
Numa manhã recente, Ahmed Jabbar, 48, olhou uma ilustração informatizada do futuro e não se impressionou. Ele dirige uma loja de roupas masculinas na rua Rasheed, outrora uma vibrante artéria comercial da era otomana, hoje deteriorada por três décadas de guerras e sanções.
Nos desenhos, a rua Rasheed aparece como uma cintilante alameda para pedestres, com palmeiras e pórticos restaurados acima de lojas de dois andares, com colunas.
Jabbar chutou a calçada diante da sua loja, produto de um recente projeto menor de reconstrução. "Gastaram US$ 7 milhões nesta calçada estúpida", disse, "e está inclinada de modo que, quando chove, a água entra nas lojas". "Com uma gente dessas no governo, teremos as mesmas circunstâncias para sempre", acrescentou.
O plano de revitalização é um testemunho do declínio da violência nos últimos dois anos. "A melhor resposta ao terrorismo é insistir na reconstrução da rua mais importante de Bagdá", disse Kamil al Zaidi, presidente do conselho provincial.
Mas, antes, o projeto enfrenta transtornos mais prosaicos. Mesmo antes de ser divulgado, já gerou três investigações por suspeitas de corrupção.
Mohammed al Rubaiei, integrante do conselho provincial, disse que o financiamento privado, por meio de uma empresa cujos acionistas incluem os proprietários de imóveis da rua, afasta a corrupção e o clientelismo que habitualmente permeiam os projetos locais.
As obras vão levar mais um ano para começar, segundo ele. A rua, projetada pelos otomanos em 1916 e calcada em Paris, aparece em grande parte da história de Bagdá: sunitas e xiitas planejaram a queda do domínio britânico, em 1920, na mesquita Hayder Khana; uma rebelião comunista tomou a rua em 1948; Saddam Hussein começou sua carreira política ali, em 1959, numa tentativa de homicídio contra Abdul Kareem Qassim, o primeiro premiê do país.
O novo plano mostra nove amplas praças e um bonde passando em meio a uma fileira de lojas. Os engenheiros identificaram 254 edifícios como patrimônio histórico. Para Muafaq al Taei, que visitou a rua numa tarde recente, os decadentes prédios evocam um passado laico, liberal, muito diferente da Bagdá de hoje.
Como muitos iraquianos de classe média da sua idade, Taei, 68, abraçou os movimentos artísticos e sociais da Europa nas décadas de 1950 e 60, vivendo-os na rua Rasheed.
Esse engenheiro disse que os planos de reconstrução são míopes, em parte porque a zona sem carros é inviável, em parte porque Bagdá hoje carece da infraestrutura para regenerar a vida que produziu a rua Rasheed. "Não se salta para o produto final", disse. "A Rasheed é um produto final."


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