São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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ENSAIO

BEN RATLIFF

Jazz e metal encontram afinidades inesperadas

O jazz é metal.
Bem, é claro que não, na verdade. Eles não soam parecidos em suas camadas externas. E seus públicos não se misturam.
Atualmente, ter sucesso no jazz significa tocar em clubes com mesas para jantar e teatros confortáveis, de tamanho médio, alugados por apresentadores de arte beneméritos, e no verão em festivais europeus. Se você deu certo no metal, toca em um circuito de clubes decentes a horríveis, onde o público fica de pé. E, no verão, em festivais europeus.
Os ideais estéticos não poderiam ser mais diferentes: o jazz tem a ver com sutileza e, se possível, beleza; o metal é intimidação, alienação, ataque.
Mas, na última década, o jazz e o metal tornaram-se mais difíceis de resumir e mais fáceis de gostar, de modo geral. E nesse processo eles geraram cada vez mais pontos de comparação.
Os palcos de jazz e os palcos de metal são lugares onde acontece um certo tipo de experimentação: cerebral e cabalística, com um esboço de sorriso.
Em ambos os gêneros você pode desenvolver curiosos mundos harmônicos, distorcer o tempo, esbarrar na música folclórica ou de conservatório, tocar muitas notas em grande velocidade e adotar um sistema mais estudado de encaixar tempos de número ímpar em métrica de número par.
O guitarrista de jazz Pat Metheny encontra Paul Masvidal da banda Cynic; Jeff (Tain) Watts, baterista de jazz, encontra Tomas Haake, da Meshuggah.
Ambas as formas parecem ter um público claramente dividido: talvez dois terços respeitosamente fixados no passado musical e um terço preocupado em construir paradigmas para o futuro.
Os dois tornaram-se cada vez mais locais e internacionais ao mesmo tempo; eles dependem dos palcos de certas comunidades -seja o Brooklyn, Chicago, ou Savannah, na Geórgia - mas seu público estão em toda parte.
Recentemente, ambos foram tema de sérias conferências acadêmicas. E, com exceção de alguns exemplos de antigos favoritos -como Metallica e Keith Jarrett-, se você quiser acompanhar qualquer um deles precisa ouvir trechos nas páginas do MySpace e assistir a apresentações ao vivo.
O jazz e o metal estão se diversificando em um ritmo fantástico, alimentando-se de seus antigos modos e linguagens, combinando-os e separando-os. Um álbum de um grupo de metal tipicamente ambicioso dos anos 2000 -como Baroness, Isis, Krallice ou Nachtmystium- poderia colocar uma dúzia de tipos de metal em um supercolisor e cuspir todos eles em estruturas musicais complexas e episódicas.
O mesmo vale para alguns dos melhores grupos de jazz atuais. Tradicionalmente, o jazz e o metal eram artes vernaculares em que músicos da classe trabalhadora podiam deixar sua marca, mas, por bem ou por mal, isso está mudando. No jazz, realmente importa onde você estudou.
Da mesma forma, eu tenho os nomes de cinco destacados jovens músicos de metal de Nova York que frequentaram escolas particulares de elite. Não vou divulgá-los.


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