São Paulo, segunda-feira, 11 de janeiro de 2010

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Editora leva o mundo a leitor dos EUA

Por LARRY ROHTER

ROCHESTER, Nova York - A indústria editorial está em dificuldades; as obras traduzidas representam no máximo 3% do mercado americano de livros; e as verbas para o ensino superior estão encolhendo.
Mas nada disso parece deter a Open Letter, uma pequena editora com apenas um ano de vida, afiliada à Universidade de Rochester, que só publica literatura traduzida.
"Existe um conjunto de leitores muito interessado em traduções e em literatura internacional que não está conseguindo o que quer", disse Chad W. Post, diretor da Open Letter. "Por isso, acreditamos que nosso modelo empresarial pode funcionar.
A literatura americana tem muitas obras excelentes. Mas os leitores de língua inglesa não têm pleno acesso às vozes e opiniões de todo o mundo, e tentamos reparar isso." Apesar de nenhum dos 16 títulos da Open Letter ter vendido mais de 3.000 cópias até hoje, seus esforços rapidamente atraíram atenção e elogios da crítica.
Os livros da Open Letter, incluindo o recém-publicado "Season of Ash", do mexicano Jorge Volpi, apareceram em listas de melhores de 2009, e a Amazon.com, que iniciou um esforço para apresentar mais autores internacionais ao público americano, recentemente deu à editora uma verba de US$ 20 mil para ajudar na publicação de "The Wall in My Head", uma antologia de autores do Leste Europeu sobre o colapso do comunismo.
A Open Letter publicou seu primeiro título, uma coletânea de ensaios da croata Dubravka Ugresic chamada "Nobody's Home", em 2008. Porém, mais de um ano antes, para anunciar a chegada do livro e atrair leitores, a editora havia lançado um blog chamado Three Percent (rochester.edu/threepercent), referência mordaz ao gueto literário ao qual a tradução se destina.
Inicialmente, talvez não tenha sido concebido como um dispositivo de marketing, mas o Three Percent se transformou em uma animada câmara de compensação para tudo o que se relaciona à literatura traduzida e recebe mais de 2 milhões de page views por ano. Os leitores podem publicar resenhas e saber o que as editoras estrangeiras planejam.
Uma comissão de sete membros, que inclui professores da Universidade de Rochester, escolhe os títulos que a Open Letter publica. Enquanto membros desse grupo dizem que não teriam problemas em escolher um potencial best-seller -os romances policiais do sueco Stieg Larsson demonstraram mais uma vez que o público americano aprecia alguns livros escritos em outras línguas-, eles dizem que não é seu principal objetivo.
"Procuramos trabalhos excelentes, em qualquer língua, ficção moderna e eclética que é desprezada", disse Joanna Scott, professora de inglês e autora de nove romances. "O comércio não entra nas discussões; eu não saberia distinguir um livro comercial."
Os livros da Open Letter têm o mesmo design enxuto, comparável ao de selos de jazz especiais que construíram um quadro de clientes fiéis graças a uma combinação particular de visual e som.
"Seus livros realmente se destacam", disse Paul Yamazaki, o principal comprador da City Lights Books em San Francisco. "Eles estão criando uma identidade com pistas visuais, e, com todas as opções que os leitores têm hoje, isso ajuda, especialmente quando sua principal atividade é apresentar novos autores para os americanos."
De acordo com esse conceito, a Open Letter também oferece um serviço de assinaturas. Por US$ 100 ao ano, um leitor pode receber todos os livros publicados pela editora no período.
Os tradutores estão deliciados com a Open Letter. "As editoras comerciais se infectaram com a mentalidade do lucro", disse Clifford Landers, que traduziu a coletânea do brasileiro Rubem Fonseca -em inglês, "The Taker and Other Stories"- para a editora. "A Open Letter cria um canal para obras que não devem ter um grande apelo popular, mas que são importantes por seu valor literário."


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