São Paulo, segunda-feira, 11 de abril de 2011

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Jovens da modernidade adotam tecnologia da máquina de escrever

Por JESSICA BRUDER
As máquinas de escrever digitais não estão desaparecendo sem deixar rastros na noite da era digital. Elas vêm atraindo entusiastas, muitos deles jovens demais para sentirem saudades dos rolos de fita, dedos manchados de tinta e líquido corretivo. Encarando as velhas máquinas Underwood, Smith Corona e Remington como objetos de fetiche, eles as reconhecem como máquinas funcionais e belas, exibindo-as e trocando-as com outros aficionados.
Nos "type-ins" (espécies de festas de datilografia), eles se reúnem em bares e livrarias para exibir a postura pós-digital, datilografando cartas para enviar por correio e competindo para ver quem datilografa mais rápido.
"No computador, a gente digita muito mais rapidamente do que consegue pensar", disse Brandi Kowalski, 33, da Brady & Kowalski Writing Machines. "Com a máquina de escrever, você é obrigado a pensar." Ela e Donna Brady, 35, lançaram empresa de máquinas de escrever vintage em abril do ano passado e já venderam mais de 70 máquinas, muitas delas para principiantes. Seu slogan: "Desplugue-se e reconecte-se".
Nos últimos três meses os "type-ins" chegaram a Seattle, Phoenix e Basileia, Suíça, onde os eventos são conhecidos como "schreibmaschinenfests" -literalmente, festas de máquina de escrever. Por que celebrar a humilde máquina de escrever? Para começar, porque as velhas máquinas de escrever são construídas como encouraçados. Elas sobrevivem a incontáveis indignidades e saem vitoriosas de consertos, diferentemente dos laptops ou smartphones.
"É um pouco como dizer 'uma banana para você, Microsoft!'", explica Richard Polt, 46 anos, colecionador de máquinas de escrever que vive em Cincinnati. As máquinas de escrever servem para uma coisa apenas: colocar palavras sobre o papel. "Quando estou diante do computador, é impossível me concentrar apenas em escrever", comenta o jornalista Jon Roth, 23. "Fico checando meus e-mails, meu Twitter." Quando usa a máquina de escrever, diz Roth, "posso me sentar e saber que estou escrevendo. O som que faço é o de escrever."
E há outra coisa interessante nas máquinas. Em mais de uma dúzia de entrevistas, jovens aficionados delas mencionaram um tema comum: embora tenham crescido na companhia de computadores, eles sentem prazer em mexer nas margens da cultura digital. Apreciam a tangibilidade, o caráter de objeto das coisas.
O que acham de tudo isso alguns dos grandes nomes literários da era original da máquina de escrever? "Pensar que há uma nova geração aderindo à máquina datilográfica faz com que eu me sinta jovem outra vez", disse o jornalista e escritor Gay Talese, 79.
Robert A. Caro, 75, biógrafo premiado com o Pulitzer, comentou que o renascimento da máquina de escrever não o surpreende. "Uma razão pela qual eu datilografo é que isso me traz uma proximidade maior com minhas palavras. É como ser um carpinteiro, como alinhar as tábuas. É assim que devemos nos sentir quando escrevemos."


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