São Paulo, segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

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LENTE

Quando tudo estiver ruim... sorria

A economia, os preços e os ânimos estão em baixa. São as corridas aos bancos, os distúrbios na Tailândia e na Grécia, as lojas queimando estoques -este mundo precisa de uma catarse. Ou talvez de uma ou duas piadas.
"Alegria ou tristeza, arrependimento ou expectativa, triunfo ou constrangimento, afeto ou maldade, o importante -e aparentemente o mais difícil hoje em dia- é continuar sorrindo", escreveu Seth Mydans no "New York Times".
O sorriso tem estado tão em falta hoje em dia na Tailândia que os policiais-motociclistas passaram a usar um sorriso vermelho pintado sobre a habitual máscara branca contra a poluição, "para melhorar o humor dos motoristas", escreveu Mydans.
Cingapura já promoveu a campanha Quatro Milhões de Sorrisos, e no Japão, onde a seriedade da vida pode ser esmagadora, os trabalhadores estão sendo treinados para segurar os "hashis" nos dentes de modo a simular um rosto risonho, relatou Mydans. Agora a Tailândia, que se intitula A Terra dos Sorrisos, tenta fazer jus ao epíteto.
"Nos últimos anos, esse sorriso murchou, porque estamos todos irritados uns com os outros e querendo demonstrá-lo", disse o economista Ammar Siamwalla, de Bancoc.
Há quem encontre formas de rir até em situações que deveriam ser dolorosas.
Piadas financeiras estão aparecendo por meio de humoristas, sites satíricos, vídeos do YouTube e até no eBay, onde a Islândia, que faliu no segundo semestre de 2008, estava sendo "leiloada" por um lance mínimo de meio dólar.
Também foram a leilão itens relacionados a Bernard Madoff, o mago nova-iorquino das finanças, acusado de tirar até US$ 50 bilhões de investidores num esquema de pirâmide. "É triste, mas engraçado", disse John Mitchell, de Illinois, que vendeu um umidificador de charutos com o nome de Madoff, segundo a Associated Press.
Com a queda das Bolsas, muitos se divertem com a desgraça alheia. No site LolFed.com, legendas humorísticas aparecem rabiscadas sobre os rostos de grandes nomes do mundo financeiro, como John Thain (Merrill Lynch), Vikram Pandit (Citigroup) e Ben Bernanke (presidente do Federal Reserve, o Banco Central dos EUA).
"Rir de gente famosa e de situações ruins pode ser uma boa forma de canalizar a ansiedade e liberar a tensão", disse o consultor Shawn Achor, que dá cursos de psicologia na Universidade Harvard, a Liz Alderman, do "New York Times".
Há também os raros casos de pessoas que perderam o emprego sem perder o bom humor. Hannah Seligson, do "New York Times", encontrou banqueiros e advogados explorando a comédia, o cinema e a literatura.
Greg Collett, 37, deixou em meados de 2008 o cargo de diretor de fundos de commodities do Deutsche Bank para tentar uma carreira com espetáculos de comédia "stand-up", escreveu Seligson.
Shaun Gatter, 38, contou como largou um emprego de vice-presidente e conselheiro de um grande banco de investimentos para escrever um romance. "As pessoas que estão perdendo seus empregos estão sendo forçadas a buscar seus sonhos e, de certa forma, estão sendo liberadas das algemas de ouro de Wall Street e se aventurando em algo que pode gratificá-las."
Para os que encontram essa plenitude na ioga, eis mais uma oportunidade para rir. Alguns instrutores estão dando mais leveza a uma prática que poderia ser solene e intensa -contando piadas, usando objetos cênicos e entoando letras de músicas pop, escreveu Abby Ellin, do "New York Times".
"Quando você ri, abre seu coração para a realidade", disse Sadie Nardini, diretora de uma escola de ioga em Manhattan. "A verdade está lá no fundo daquele lugar que ri." E talvez seja justamente nesse lugar que o mundo precisaria estar agora. Como disse Karen Cohen, 46, mestra de ioga na Virgínia: "Rir é saudável, a alegria é saudável; um pouco de patetice faz bem".


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