São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

US$ 53 bi depois, reconstrução frustra o Iraque

Por TIMOTHY WILLIAMS

FALLUJA, Iraque - Após duas devastadoras batalhas entre forças americanas e insurgentes sunitas em 2004, a cidade de Falluja precisava de praticamente tudo -novas ruas, água potável, eletricidade, hospitais.
As autoridades americanas de reconstrução decidiram, porém, que a primeira grande obra para conquistar corações e mentes seria um sistema de tratamento de esgoto abrangendo toda a cidade.
Agora, após mais de seis anos de trabalho e um gasto de US$ 104 milhões, e sem ter conectado uma só casa, as autoridades americanas decidiram deixar o sistema apenas parcialmente concluído, enfurecendo a população.
A estação é um dos vários projetos que os EUA decidiram reduzir -ou até abandonar-, no momento em que muitos soldados americanos que prestam segurança aos canteiros de obras se preparam para partir.
Outros projetos são concluídos a toque de caixa, dizem as autoridades iraquianas, deixando operários em perigo e fazendo com que algumas obras corram o risco de desabar.
As autoridades americanas citam várias razões para a revisão de alguns projetos. Em alguns casos, dizem ter descoberto que as instalações divergiam das necessidades mais prementes do Iraque; em outros, que o trabalho inicial -supervisionado por empreiteiras americanas e executado por operários iraquianos- foi tão malfeito que o conserto iria demorar tempo demais.
As autoridades de reconstrução alegam ter completado a ampla maioria dos projetos planejados, de pontes a apiários, num total de US$ 53 bilhões. E esses funcionários, junto com a Embaixada dos EUA em Bagdá, dizem conhecer apenas preocupações isoladas quanto à qualidade das obras em andamento ou a projetos inconclusos.
"Não estou ciente dos iraquianos tendo qualquer tipo de ressentimento de que não iremos concluir projetos atuais e projetos concedidos que dissemos que iríamos [concluir]", disse num e-mail o coronel Dionysios Anninos, chefe do Corpo de Engenheiros do Exército no Iraque.
Mas alguns iraquianos comparam o atual esforço apressado de reconstrução à atabalhoada desocupação americana do Vietnã em 1975. Na Província de Diyala, a nordeste de Bagdá, as autoridades iraquianas disseram ter descoberto que os padrões de construção decaíram tão drasticamente que tiveram de ordenar a suspensão imediata de todos os projetos com financiamento dos EUA, embora os inspetores americanos tivessem considerado o trabalho adequado.
Nas Províncias de Dhi Qar e Babil, há queixas de que estradas e edifícios recém-concluídos pelos americanos não atendem às normas básicas de engenharia. Em Hilla, capital da Província de Babil, enormes rachaduras têm sido apontadas em uma estrada de US$ 7,4 milhões construída há menos de um ano. As autoridades de reconstrução dizem que as rachaduras não são fora do normal e não representam um risco.
Em Falluja, na Província de Anbar, as obras de saneamento deixaram algumas das ruas mais movimentadas da cidade repletas de valas abertas há mais de três anos, e motivaram um ressentimento disseminado. A notícia de que a obra ficará inconclusa despertou raiva.
"Eu disse aos americanos que, se eles quiserem deixar uma boa impressão em Falluja e apagar os maus sentimentos sobre os Estados Unidos por causa da guerra, eles deveriam concluir esse projeto completamente e adequadamente", queixou-se Hamed Hashim, presidente da Câmara de Vereadores local.
"Ele deveria ter sido terminado em dois anos, então em cinco anos, e ainda não está completo. Não houve benefício para nós." O projeto foi concebido para tratar o esgoto de todos os 200 mil moradores de Falluja e para incorporar uma capacidade adicional para que a cidade crescesse 50%.
Já o novo sistema, menor, atenderá apenas 4.300 casas, ou cerca de um sexto da população de Falluja, segundo autoridades americanas e iraquianas.
"Este projeto deveria ser uma misericórdia", disse Ali Abed al Karim, dono de uma loja onde os clientes não conseguem entrar por causa de uma vala na porta. "Mas não foi nada além de uma maldição."


Texto Anterior: Na França, diversidade e mérito são ideais em duelo
Próximo Texto: Diário de Porto Príncipe: Sozinho, haitiano tenta organizar trânsito no pós-terremoto
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.