Por JOHN NOBLE WILFORD
Não se conhecia a existência de nada exatamente como ele -um dinossauro com duas garras em formato de foice em cada pé- no período final da era dos grandes répteis. Não surpreende que caçadores de fósseis na Romênia tenham se espantado ao desenterrar resquícios de um parente distante do velociraptor, o predador já conhecido e temido por sua ferocidade -que possuía uma garra apenas- e viram seus membros atarracados, incomuns, e pés com duas garras.
Os descobridores relataram no final de agosto que o dinossauro, do tamanho de um peru gigante, era um animal carnívoro que viveu mais de 65 milhões de anos atrás, no período Cretáceo superior. Eles o denominaram Balaur bondoc, que significa "dragão atarracado".
Cientistas disseram que o Balaur é o primeiro esqueleto razoavelmente completo encontrado de um dinossauro predatório da Europa dessa época. Para eles, a descoberta pode fornecer dados novos sobre o desenvolvimento dos dinossauros e de outros animais em um ecossistema europeu do passado distante.
Antes do final do Cretáceo, a Europa era um arquipélago de ilhas em mares de nível muito mais alto do que o atual.
Fósseis descobertos anteriormente indicam que a vida na região teria seguido o padrão conhecido como "efeito ilha". Os animais em ambientes isolados, incluindo os dinossauros herbívoros, frequentemente evoluíram como versões menores e mais primitivas de seus parentes continentais. O Balaur parece conformar-se com esse padrão e, ao mesmo tempo, diferenciar-se dele.
Em artigo, a equipe que descobriu o fóssil disse que a espécie incomum "aponta para a natureza aberrante dos dinossauros europeus moradores de ilhas no final do período Cretáceo, mas indica que os predadores nessas ilhas não eram necessariamente pequenos, geograficamente endêmicos ou primitivos".
O fato de não ser geograficamente endêmico quer dizer que o Balaur demonstra parentesco com dinossauros de fora da Europa, de modo que deve ter havido ligações com a vida na Ásia e América do Norte. Mas não fica claro, observaram, "se o chamado efeito ilha se manifestou diferentemente nesses animais ou se não se manifestou".
Os pesquisadores disseram que o esqueleto do Balaur possui pelo menos 20 características em seu pé, perna e pelve que não são vistas em dinossauros predadores. A mais singular delas é a presença de duas garras afiadas em cada pé, uma delas que teria nascido do dedão e outra do segundo artelho.
Parece que os fortes membros inferiores eram usados para agarrar e estripar as presas do animal.
O estudante de pós-graduação Stephen L. Brusatte, da Universidade Columbia, que analisou os fósseis, disse que, comparado ao velociraptor, "o Balaur provavelmente agia mais como 'kickboxer' que como corredor. Talvez fosse capaz de derrubar animais maiores que ele mesmo, como fazem muitos carnívoros hoje."
"É uma nova raça de dinossauro predador", afirmou, "muito diferente de tudo o que conhecemos."


Texto Anterior: Entre alguns animais, o pai surpreende
Próximo Texto: Nova York
Esqueça os vampiros; estes mordem de verdade
Índice | Comunicar Erros