São Paulo, segunda-feira, 14 de junho de 2010

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LENTE

As mais sinceras formas de expressão

O Departamento de Arquitetura e Design do Museu de Arte Moderna de Nova York adquiriu a arroba -o sinal "@", símbolo das nossas relações tecnológicas e sociais. A Biblioteca do Congresso, instituição cultural de 210 anos, está arquivando obras selecionadas do Twitter, serviço de microblogs no qual circulam diariamente 55 milhões de mensagens com até 140 caracteres.
"Juntos, elas devem ser de valor considerável para futuros historiadores", escreveu o "New York Times". "Elas contêm mais observações, registradas ao mesmo tempo por mais gente, do que jamais foi preservado em qualquer meio antes."
O meio para as mensagens muda rapidamente, muitas vezes combinando coisas novas e velhas. As comunicações agora contêm jorros de informações, pensamentos tidos na hora, instantaneidade, abreviações e mensagens centradas na sua localização, no estilo do Foursquare.
O que significa que, se você está escrevendo uma carta, um convite ou um bilhete de agradecimento a mão, já está atrasado. Mas a nostalgia pelo papel ainda é forte, e motiva um serviço de "papelaria virtual" surgido há um ano, o Paperless Post.
O usuário pode desenhar, enviar e acompanhar convites eletrônicos, com elegantes papéis de carta virtuais -o que inclui o grão visível do papel e a caligrafia floreada. Dá quase para sentir o cheiro do material. Clique no envelope hiper-real, e um simpático cartão-convite salta. Clique nele para preencher um cartão de resposta.
"A internet tem sido uma espécie de vácuo em termos de estética", disse ao "Times" a fundadora (com seu irmão) Alexa Hirschfeld. "Queríamos alavancar a funcionalidade com design."
Há outros seguindo esse caminho. Lembra-se de delicadezas como gramática e pontuação corretas? No Twitter, há uma subcultura de polícia gramatical coibindo erros de digitação, ortografia e outros, escreveu o "Times". Donos de contas com nomes como Grammar Fail ("reprovação gramatical"), "Grammar Hero" ("herói gramatical") e "Word Police" ("polícia da palavra") costumam dar intenso retorno a outros usuários.
"Não quero que eles fiquem chateados", disse ao "Times" Tom Voirol, que mantém o Twenglish Police. "Só quero apontar as coisas."
Em meio a tanto ruído digital, há outro bastião da etiqueta: um grupo que ainda preza o que é manuscrito e feito à mão. Alguns são aspirantes a socialites, outros simplesmente gostam de sentir o produto artesanal. Eles gostam de material de papelaria luxuoso, impresso com selos entalhados manualmente e vários tipos de fontes e tintas. A Demsey & Carroll, fundada em 1878, vende caro esse material: US$ 350 por 100 cartões de anotações; US$ 500 pelos respectivos envelopes com bordas de tecido.
"Eu realmente penso nas pessoas para quem estou escrevendo e o que elas apreciariam", disse ao "Times" Elizabeth Mayhew, especialista em estilo de vida. "Esse processo é uma ênfase totalmente diferente de redigir um e-mail rápido."
Pamela Fiori, ex-editora da revista "Town & Country", disse ao "Times": "Num mundo cada vez mais incivilizado, é importante que tenhamos alguns laços com a tradição. E honestamente acho que o que estamos perdendo com o e-mail são as nossas lembranças."
Mas sempre dá para consultar o arquivo do Twitter e recuperar aqueles pensamentos fugazes.


ANITA PATIL

Envie comentários para nytweekly@nytimes.com


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