São Paulo, segunda-feira, 14 de junho de 2010

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Displays de pretensões artísticas


Bancas de jornais em Roma expressam individualidade de seus donos

Por MICHAEL KIMMELMAN
ROMA - A era em que a presença da "Time", "Newsweek" ou do "Le Monde" conferia um glamour cosmopolita às bancas de jornais europeias chegou ao fim com viagens aéreas mais baratas.
Agora, em toda a Europa, as bancas de jornais estão ficando mais parecidas com shoppings em miniaturas. Fregueses à procura da última edição do "Corriere dello Sport" poderão encontrar pratos de jantar e enciclopédias entre a "Vogue" chinesa, "Der Spiegel" e "The Economist". Recipientes para comida, Vespas de brinquedo e CDs disputam espaço com os cartões postais habituais, guias de turismo e DVDs sobre dietas.
Alguns dos quiosques de Roma ganharam aparência quase tão barroca quanto a arquitetura da cidade. Filippo de Angelis comanda a banca ao lado da Piazza della Minerva. Ele opta por um display de publicações clássico. O visual arrumadinho condiz com a fachada da basílica, do outro lado da praça. Ex-padeiro, De Angelis assumiu a banca dois anos atrás. "Antigamente, éramos apenas eu e o trigo", comenta.
Em uma manhã recente, De Angelis rejeitou a sugestão de que sua banca seja elegante, mas reconheceu que a disposição dos DVDs, em uma catarata como se fosse de confete, tinha sido escolhida especialmente por ele.
Massimo Fioretti administra a banca entre o Panteão e Sant'Eustachio. Depois de 15 anos no ramo, ele sente saudades da época em que sua banca era um lugar onde vizinhos deixavam recados uns para os outros e se demoravam para bater papo. Tudo isso terminou em decorrência do turismo, da internet, dos celulares e de valores imobiliários que impossibilitaram aos antigos residentes continuarem no bairro.
No vizinho Campo dei Fiori, Fabrizio Zanchi comandava a banca imensa em que trabalha. Prateleiras estreitas se erguem como anjos em um afresco de Pietro da Cortona. Mas estão carregadas de mercadorias.
As bancas em todo lugar estão repletas das mesmas coisas -3.000 itens ao todo, segundo estimativa de De Angelis, ou 20 mil, de acordo com Zanchi. E, todas as noites, jornais, revistas e outros materiais precisam caber dentro dos quiosques fechados.
Ex-hoteleiro de São Paulo, Zanchi mudou-se para Roma há sete anos. Ele aprecia o desfile de revistas de moda da França, Espanha e China em sua banca. Espelhos presos à prateleira lhe proporcionam uma visão da banca por todos os lados e conferem a ela um toque ligeiramente rococó.
Em resposta à observação de que sua banca parece engenhosa, Zanchi respondeu: "É verdade. Sinto-me cercado por cultura."


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