São Paulo, segunda-feira, 14 de junho de 2010

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Nas selvas da Colômbia, rebelde holandesa fascina


A holandesa Tanja Nijmeijer, que entrou para a guerrilha colombiana das Farc em 2002

Por SIMON ROMERO
BOGOTÁ, Colômbia - O arquivo pessoal compilado pelas Farc (Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia) sobre a guerrilheira n? 608372 parece banal, em princípio. Diz que ela nasceu em 13 de fevereiro de 1978, ensinou idiomas em Pereira e Manizales e, em 2002, entrou para a célula urbana Antonio Nariño, em Bogotá, onde recebeu treinamento em explosivos. Uma fotografia mostra uma jovem atraente de boné. Nome de guerra: Alexandra.
Mas, como confirma uma série de documentos capturados pelas forças de segurança colombianas em um reduto da guerrilha em 2009, esta não era uma rebelde comum.
O arquivo é uma nova peça do quebra-cabeça que cerca a mulher, cujo verdadeiro nome é Tanja Nijmeijer e que está ocupando a imaginação de sua terra adotiva, a Colômbia, e de seu país natal, a Holanda.
"Ela é uma das figuras mais fascinantes em nossa longa guerra, presente em muitos de seus momentos críticos ao longo da última década", disse León Valencia, ex-guerrilheiro e um dos autores de um novo livro sobre Nijmeijer. O livro e um documentário que foi transmitido no mês passado na televisão holandesa estão contribuindo para a complexa história de Nijmeijer, afirmando que a guerrilheira de origem holandesa não apenas está viva como ascendeu ao círculo interno do grupo rebelde das Farc.
Criada na aldeia de Denekamp, no norte dos Países Baixos, Nijmeijer abraçou o ativismo político radical quando estudava espanhol em Groningen. De lá, há uma década, partiu em busca de aventura para a Colômbia, então mergulhada em uma feia guerra. Depois de algum tempo, escolheu um lado: uniu-se às Farc e em 2003 desapareceu na selva colombiana.
O mundo poderia nunca ter ouvido falar de Nijmeijer, hoje com 32 anos. Mas soldados colombianos encontraram seus diários, escritos em holandês, em um acampamento das Farc invadido em 2007, o que causou sensação aqui naquele ano, oferecendo uma rara visão da vida cotidiana da guerrilha.
Em algumas anotações, ela descreveu o tédio dos guerrilheiros vivendo no interior. Em outras dizia ter saudade de sua família. Em outras ainda, contou sobre suas escapadas sexuais com colegas rebeldes, enquanto deplorava a dominação das recrutas mulheres pelos comandantes.
Em todos os textos ela tocou em um tema que parecia perturbar os próprios rebeldes: se eles ainda defendiam alguma coisa, tendo evoluído de suas origens idealistas para uma força que se financia confortavelmente com o tráfico de drogas e sobrevive de sequestros, extorsão e do recrutamento de crianças como combatentes?
"Como será quando tomarmos o poder?", escreveu Nijmeijer. "As mulheres dos comandantes em Ferraris, com implantes de seio e comendo caviar?"
Não se ouviu falar muito em Nijmeijer depois da revelação de seus escritos, a não ser por um vídeo de 2005 obtido por autoridades colombianas e divulgado aqui. As imagens a mostravam de uniforme, sorrindo e pedindo que seus pais a perdoassem por desaparecer na guerra deste país.
Líderes das Farc reconheceram que a história da combatente holandesa poderia atrair outros idealistas.
"É desnecessário dizer que ela é linda", gabavam-se as Farc em sua página na web no mês passado. "Ela também fala inglês, espanhol e holandês. Mas é surpreendente como é modesta! Deve ser porque vem de uma família que trabalhava a terra. Ela se orgulha dessa herança."


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