São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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Palin - falante e preparada, mas para quê?

Por MARK LEIBOVICH

WASHINGTON - Sem sair de casa, Sarah Palin poderá alcançar boa parte da sua base política, graças a um estúdio de TV a ser construído em breve na sua sala de estar por seu novo patrão, a Fox News. De Wasilla, Alasca, Palin também envia mensagens a seu 1,3 milhão de "fãs" no Facebook, escreve colunas de jornal, posta no Twitter e autografa exemplares do seu livro.
Ela lê relatórios diários sobre temas de política interna e externa, enviados para seu e-mail por um pequeno grupo de assessores que permaneceu fiel a ela após a tumultuada campanha a vice-presidente em 2008. E, embora tenha moldado a imagem de que é uma conservadora antiestablishment, ela também conversa regularmente com uma nobiliarquia bipartidária de pessoas bem colocadas em Washington, que a têm ajudado a ganhar dinheiro e a se posicionar no cenário político.
Palin está cada vez mais falante e visível. Num fim de semana recente, fez um discurso pago na noite de sexta-feira na Câmara de Comércio de Salina, no Kansas; foi destaque no sábado numa convenção nacional do movimento conservador "Tea Party" em Nashville ("Como aquele troço de esperança-mudança está funcionando para vocês?", perguntou ela, numa indireta ao presidente Barack Obama); e fez campanha no domingo pela reeleição do governador do Texas, Rick Perry.
Seu crescente elenco de consultores e seu sistema de apoio podem estar a serviço de diversas metas: uma candidatura presidencial, um papel como líder "de facto" do movimento antitributário "Tea Party", uma lucrativa carreira como entidade itinerante da mídia -ou todas as anteriores. Palin representa uma nova espécie de figuras públicas não eleitas, que operam em um ambiente no qual política, imprensa e celebridade se fundem como nunca antes.
Não importa se algum dia ela vai voltar a se candidatar a qualquer coisa, mas Palin já alcançou um status que se tornou um fim em si próprio: uma ampla audiência on-line, uma equipe para guiá-la, uma enorme renda e nada da chateação ou da responsabilidade de ter de governar ou fazer campanha por um cargo.
"Poucas figuras públicas sem cargo alavancaram o nexo entre mídia e posicionamento político como Sarah Palin", disse o advogado Robert Barnett (que negociou o vultoso contrato de Palin com a Fox News, um arranjo com o escritório de representação de conferencistas Washington Speaker's Bureau, que lhe paga estimados US$ 100 mil por palestra, e um contrato com a Harper Collins para escrever sua autobiografia, "Going Rogue", que já lhe rendeu milhões de dólares).
Palin está discretamente montando a infraestrutura de uma operação política em expansão. Além da sua antiga assessora de imprensa, Meghan Stapleton, os assessores mais próximos de Palin incluem membros da equipe do seu ex-colega de chapa, o senador John McCain.
A ex-governadora também alistou consultores políticos para lhe guiar por áreas em que muitos a consideraram fraca em 2008. Randy Scheunemann, consultor de política externa de McCain que teve atritos com o comando da campanha, contribui para um relatório diário preparado por Kim Daniels, advogada que prestou serviços jurídicos no Alasca para a campanha de McCain. Scheunemann é conhecido como um "falcão" conservador em questões externas, coerentemente com aquilo que muitos observadores apontaram como uma guinada de Palin à direita.
"Ela costumava ser uma republicana moderada no Alasca, mas acho que todos esses ataques a endureceram e a tornaram mais conservadora", disse John Coale, advogado e tradicional arrecadador de verbas para os democratas, mas que ajudou Palin a montar seu comitê de ação política.
De certa forma, dizem observadores, a questão sobre as ambições e capacidades de Palin continua sendo tão misteriosa hoje quanto era quando ela irrompeu na consciência americana, 18 meses atrás. "Acho que se Sarah tem uma paixão é que ela realmente acredita que há por aí uma maioria silenciosa sobre a qual ela quer que o pessoal em Washington saiba", disse Kristan Cole, amiga dela em Wasilla.
Palin, que não quis fazer declarações para esta reportagem, raramente é vista em sua cidade hoje em dia, segundo moradores. E, desde que deixou o cargo de governadora, no ano passado, está em silêncio sobre questões políticas estaduais. "Ela está basicamente invisível no Alasca, mas tão celebridade quanto a princesa Diana em todos os outros lugares", disse Rebecca Braun, que edita o apartidário "Relatório Orçamentário do Alasca".


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