São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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Palcos olímpicos de Pequim se esvaziam

Por MICHAEL WINES

PEQUIM - Em 2008, os chineses construíram um extravagante estádio esportivo que ficou conhecido como o Ninho do Pássaro, por sua arquitetura que parece uma renda. Mas, depois da Olimpíada, os espectadores não vieram mais. Neste momento, o Ninho do Pássaro serve como parque de diversões de inverno, conhecido como Temporada Feliz de Gelo e Neve.
Em abril, um promotor poderá encenar ali um show de rock com celebridades para "definir a China como líder mundial para a paz global e um planeta mais saudável". Ou não.
Depois disso, o governo diz que poderá construir um shopping center no local.
Em 2008, a extravagância política chinesa foi reconhecida em todo o mundo, e especialmente em Pequim, como uma metáfora da ascensão do país. Dezoito meses depois, a China é mais importante do que seus líderes poderiam imaginar.
Mas outro local, o famoso Cubo Aquático de Pequim, transformou-se de estádio olímpico em sala de shows de luzes e, depois, palco para uma apresentação russa do "Lago dos Cisnes". Sua última encarnação é como um parque aquático coberto.
No ano seguinte à Olimpíada, o icônico Ninho do Pássaro, de 91 mil lugares, abrigou um show de Jackie Chan, um jogo de futebol italiano, uma ópera e uma apresentação de canto chinês. Mas o time de futebol local recusou acordo para transformá-lo em seu estádio, e os únicos ocupantes hoje são turistas que pagam US$ 7 para ir à loja de suvenires.
Os estrangeiros podem achar isso um desperdício. Afinal, o estádio olímpico de Atlanta tornou-se um parque de beisebol, e o Saddledome, de Calgary, um edifício público.
Mais uma vez, os Jogos Olímpicos parecem derivar em corrupção governamental. Veja Atenas, onde 21 dos 22 estádios erguidos para a Olimpíada de 2004 foram registrados como desocupados em 2009. O custo de US$ 14,4 bilhões da festa é citado por alguns como uma das fontes dos problemas fiscais da Grécia, potencialmente desestabilizadores.
Se a China é diferente -e a China é-, é porque preocupações fiscais na escala diminuta de Atenas dificilmente são registradas em Pequim. O excesso de construções não é uma preocupação importante. De fato, alguns poderiam chamá-lo de estratégia econômica.
Esse é um país de novas torres de escritórios e hotéis e condomínios de apartamentos de luxo, muitos construídos sobre especulação, financiados com empréstimos estatais ou em propriedades subsidiadas. Muitos estão mais vazios do que cheios.
Segundo a imobiliária Colliers International, cerca de 38% dos escritórios no bairro central de negócios de Pequim ficarão vazios neste ano.
Muitos especialistas concordam que a habitação e as finanças são bolhas, e todos esperam um grande acerto de contas em algum momento no futuro -um ano? Dois? Mas houve um acerto depois do pânico na Ásia em 1999, e outro em 2004, e nas duas vezes o governo socorreu os grandes bancos estatais.
De fato, o governo perdoou ao Banco Agrícola da China US$ 120 bilhões em empréstimos azedos em outubro passado, sem um pio de protesto público.
Eventualmente, num país desse tamanho, alguém vai encher o centro de convenções e o parque aquático. Senão, bem, construam de qualquer modo. A construção cria empregos, alimenta o prestígio e o PIB. No país grande demais para falir, desde que os empréstimos ruins não superem os bons, o desperdício é tolerável.
"É a essência da estratégia chinesa", disse Eswar Prasad, professor da Universidade Cornell e ex-diretor da divisão China do FMI. "Só mantenha a máquina se movendo com rapidez."


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