São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Minissensores oferecem novo mundo de detalhes

STEVE LOHR
ENSAIO

Na computação, a visão sempre antecede a realidade em uma década ou mais. O padrão se manteve verdadeiro desde o PC até a internet, pois são necessários tempo, cérebro e investimento para vencer obstáculos científicos e econômicos e levar uma tecnologia revolucionária à corrente dominante.
O mesmo padrão, segundo cientistas de universidades e laboratórios corporativos, está evoluindo no campo da computação baseada em sensores. Anos atrás, entusiastas previram a chegada da "poeira inteligente" -pequenos sensores digitais espalhados pelo globo, coletando todo o tipo de informação e comunicando-se com poderosas redes de computadores para monitorar, medir e compreender de novas maneiras o mundo físico. Mas essa visão parecia saída do reino da ficção-científica.
A poeira inteligente, é claro, ainda está muito distante. Mas o ciclo virtuoso da tecnologia, de menor, mais rápido e mais barato, atingiu o ponto em que os especialistas dizem que os sensores poderão em breve ser potentes o suficiente para equivaler a minúsculos computadores. Alguns projetos ambiciosos de pesquisa de sensores dão uma ideia de para onde as coisas estão caminhando.
No ano passado, a HP começou o projeto "Sistema Nervoso Central para a Terra", uma iniciativa de dez anos para embutir um trilhão de sensores do tamanho de cabeças de alfinete ao redor do globo. Os pesquisadores da HP, combinando eletrônica e nanotecnologia, anunciaram em novembro que tinham desenvolvido sensores com acelerômetros que eram até mil vezes mais sensíveis que os detectores de movimento comerciais usados no videogame Wii e em alguns "smartphones".
O uso de acelerômetros em produtos de consumo indica a mudança da economia dos sensores, comenta Peter Hartwell, pesquisador dos laboratórios HP. Na década de 1980, os acelerômetros começaram a ser usados em automóveis para detectar choques, fazendo os airbags se inflarem. Essa foi uma aplicação cara e especializada de sensoriamento de movimento. Mas os sensores atuais de baixo custo, disse Hartwell, estão abrindo a porta para seu uso generalizado, ligando o mundo físico à computação como nunca antes.
Em lugares como desktops e centros de dados, o poder da computação avança. "Mas ainda é como se o computador fosse um cérebro cego, surdo e mudo ao seu entorno", diz Hartwell. "Superar essa lacuna é do que se trata a revolução dos sensores."
Sensores equipados com microchips podem ser desenhados para monitorar e medir não só movimento, mas temperatura, contaminação química ou mudanças biológicas. As aplicações, dizem os especialistas, incluem edifícios que administram seu uso da energia, pontes que sentem o movimento e a fadiga do metal para dizer aos engenheiros que precisam de reparos, carros que acompanham padrões de tráfego e relatam buracos e carregamentos de frutas e legumes que dizem aos quitandeiros quando amadurecem.
O consumo de energia é a principal área da computação baseada em sensores. A poeira inteligente, observou Joshua Smith, engenheiro do Intel Labs, em Seattle, mostrou-se impossível porque os sensores inteligentes precisavam de baterias. Em vez de poeira, segundo ele, os nódulos de sensores seriam do tamanho de toranjas.
Mas a barreira da energia está se desgastando rapidamente, disse Smith. Avanços em chips-sensores estão oferecendo um progresso rápido e previsível na quantidade de processamento de dados que pode ser realizada por unidade de energia.
Isso, segundo ele, expande o potencial de dados que os sensores podem manipular e a distância em que podem se comunicar sem baterias.
Na Intel, Smith está pesquisando sensores baseados na tecnologia comercial de identificação remota RFID e que acrescentam um acelerômetro e um chip programável -em um pacote que mede milímetros.
Sua energia, explica, pode vir de um leitor de radiofrequência, como em RFID, ou da energia ambiente de rádio de TV, rádio FM e redes WiFi. "A capacidade de eliminar as baterias para esses sensores aproxima da realidade a visão da poeira inteligente", diz Smith.


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