São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Como os imigrantes geram mais empregos

TYLER COWEN
ENSAIO

A constante chegada de imigrantes às plagas americanas incentiva a atividade empresarial e gera mais empregos, segundo um novo estudo.
Seus autores afirmam que quanto mais fácil for encontrar mão de obra imigrante barata em casa, menor a probabilidade de que a produção seja levada para outros países (offshoring).
O estudo "Imigração, Offshoring e Empregos Americanos" foi escrito por dois professores de economia -Gianmarco I. P. Ottaviano, da Universidade Bocconi na Itália, e Giovanni Peri, da Universidade da Califórnia em Davis- juntamente com Greg C. Wright, aluno de pós-graduação em Davis.
O estudo nota que quando as empresas deslocam sua produção para outros países levam consigo não apenas os empregos mal remunerados, mas também muitos outros que podem incluir gerentes altamente qualificados, pessoal técnico de reparos e outros.
Mas contratar imigrantes, mesmo para empregos com baixos salários, ajuda a manter muitos tipos de empregos nos Estados Unidos, segundo os autores. Quando a imigração aumenta como parcela do emprego em um setor, o offshoring tende a cair e vice-versa, diz o estudo.
Como mostraram outros trabalhos do professor Peri, os imigrantes de baixa qualificação geralmente preenchem lacunas nos mercados de trabalho americano e reforçam as perspectivas domésticas das empresas, mais que destroem empregos.
Isto ocorre por causa de um fenômeno importante, a presença do que é conhecido como trabalhadores "complementares", ou seja, aqueles que agregam valor ao trabalho de outros.
Um imigrante assume um emprego como operário da construção, instalador de carpetes ou motorista de táxi, por exemplo, enquanto um trabalhador nativo pode acabar sendo promovido a supervisor. Conforme os imigrantes têm sucesso aqui, eles ajudam o país a desenvolver empresas fortes e redes sociais com o resto do mundo, tornando mais fácil para nós fazer negócios com a Índia, o Brasil e a maioria dos outros países.
Todos estamos preocupados com o desemprego, mas o problema geralmente se origina nas condições macroeconômicas. A origem não está na imigração ou no offshoring (segundo um estudo da Pew, o número de imigrantes ilegais do Caribe e da América Latina caiu 22% de 2007 para 2009, e sua partida não teve grande efeito sobre o fraco mercado de trabalho dos EUA).
Lembrem-se de que cada imigrante consome produtos vendidos aqui, o que ajuda no processo de criação de empregos.
Quando se trata de imigração, o pensamento positivo, muitas vezes, está ausente do discurso público. O debate sobre imigração e mercados de trabalho reflete algumas falhas cognitivas humanas comuns -quais sejam, de que somos mais rápidos para culpar grupos de "outros" do que para culpar as forças impessoais.
Considere os temores de que a concorrência estrangeira, o offshoring e a imigração destruíram grande número de empregos americanos. Na realidade, mais trabalhadores provavelmente foram deslocados por máquinas -como acontece cada vez que um software de computador elimina uma tarefa antes realizada por um funcionário de escritório. Mas nós sabemos que as máquinas e os computadores fazem muito mais bem do que mal à economia e que criam mais empregos do que destroem.
No entanto, achamos difícil transferir essa atitude para nossa abordagem dos imigrantes, por mais que "máquinas que poupam custos" e "mão de obra estrangeira que poupa custos" possam ser logicamente semelhantes em seus efeitos econômicos. De maneira parecida, tarifas e outras medidas protecionistas a países estrangeiros têm um certo apelo populista, mesmo que suas consequências econômicas possam ser quase as mesmas que as causadas por um desastre natural que fecha estradas ou congestiona um porto doméstico.
Os americanos gastam muito tempo e energia preocupando-se com os estrangeiros. Nós também acabamos tendo relações internacionais mais agressivas com nossos parceiros econômicos do que a razão poderia justificar. Por outro lado, eles ficam mais desconfiados de nós economicamente do que deveriam.
O atual ceticismo paralisou as perspectivas de reforma da imigração, apesar de ninguém estar especialmente feliz com a situação atual. Contra essa tendência, deveríamos olhar para a imigração como uma força criativa que nos beneficia economicamente. Permitir a entrada de mais imigrantes, qualificados ou não, não apenas criaria empregos. Também aumentaria a receita fiscal, ajudaria a financiar a previdência, traria novos compradores de residências e melhoraria o ambiente empresarial.
A economia mundial se tornará mais aberta, e devemos estar preparados. Isso significa reconhecer os benefícios que os imigrantes trazem para os EUA.


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