São Paulo, segunda-feira, 15 de novembro de 2010

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Produção de algodão está em crise

Por STEPHANIE CLIFFORD

Os preços extraordinariamente altos do algodão fazem com que as confecções lutem para manter os custos baixos, mas os consumidores estão avisados: as roupas de algodão ficarão mais caras.
"Realmente é uma situação sem opção", disse Wesley R. Card, presidente e executivo-chefe do Jones Group, a empresa por trás de marcas como Anne Klein, Nine West e outras. "Os preços têm de subir."
A rede Bon-Ton está aumentando os preços de seus artigos de moda da marca própria em até US$ 1 nesta primavera, e eles vão subir ainda mais no outono. Ela está mudando de 100% algodão em peças como suéteres para misturas mais acrílicas.
A Levi's diz que já aumentou seus preços e poderá remarcá-los novamente no próximo ano. E a Hanesbrands, fabricantes de Champion, Hanes e Playtex, diz que o aumento será aplicado em fevereiro, e os preços poderão subir ainda mais se o algodão continuar nesse patamar.
Outras confecções dizem que seguraram os preços este ano, mas que será diferente no próximo. A V.F. Corporation, fabricante de 7 for All Mankind e The North Face, diz que a maioria das marcas provavelmente custará mais no próximo ano, e suas linhas de jeans de algodão são especialmente suscetíveis a reajustes. Jones diz que a porcentagem de seus aumentos poderá ser de um ou até dois dígitos.
O problema é um clássico desequilíbrio entre oferta e procura, com o preço do algodão em alta de quase 80% desde julho, e a expectativa de que continue elevado. "A produção mundial de algodão provavelmente não vai alcançar o consumo durante pelo menos dois anos", disse Sharon Johnson, analista sênior de algodão no First Capital Group, por e-mail.
Os estoques de algodão estavam baixos por causa da fraca demanda durante a recessão. Neste verão, novas colheitas de algodão foram prejudicadas pelas enchentes no Paquistão e o clima adverso na China e na Índia, produtores da matéria-prima.
Mas a demanda na China, em especial, estava subindo. E, como a recuperação econômica nos Estados Unidos começou, os fabricantes de roupas e varejistas fizeram encomendas de mais matéria-prima, provocando ainda mais demanda. Com o aumento dos preços, os especuladores entraram no mercado, fazendo-os subir ainda mais.
"Agora até os negociantes mais veteranos estão chocados", disse Mike Stevens, um analista de algodão independente em Mandeville, Louisiana, por e-mail. "Isso causou pânico nos moinhos de todo o mundo, que compraram para garantir que continuassem funcionando."
No início de novembro, o preço do algodão (medido pelos futuros de algodão para entrega em dezembro) havia atingido uma alta recorde, devido a preocupações de que o clima frio na China pudesse prejudicar algumas plantações.
A valorização acelerada do produto levou algumas confecções a transferir sua produção para países com mão de obra mais barata ou taxas alfandegárias moderadas. A companhia de roupas esportivas Lululemon Athletica está mudando parte da fabricação da China para o Vietnã, Camboja e Bangladesh, onde os salários são menores, e a Bon-Ton se beneficia da produção com impostos reduzidos no Egito e na Nicarágua.
Os fabricantes também estão pensando menor, examinando se um botão e uma linha podem ser substituídos por mais baratos ou se a mistura geral de material pode ser modificada para não usar tanto algodão.
"Eles estão recebendo encomendas dos varejistas e tendo esta conversa com eles: 'Olhe, não posso entregar esta roupa por US$ 1 este ano, se custa US$ 1,25 para fabricar'", disse Andrew Tananbaum, executivo-chefe da Capital Business Credit, que financia confecções e outros importadores. "Então você compraria essa roupa se não fosse de algodão, mas de acrílico?"
Card, do Jones Group, disse que a empresa tem "equipes inteiras" procurando materiais com melhor custo-benefício e que não reduzam a qualidade. "É só isso que eles fazem", disse Card.
A Liz Claiborne, que fabrica marcas como Juicy Couture e Kate Spade, disse que também está jogando com alguns materiais que utiliza. Um exemplo, segundo a porta-voz Jane Randel, seria passar de alguns tecidos italianos importados para "fornecedores que produzem suas próprias matérias-primas ou fios". A empresa também poderá rever seus contratos dos chamados materiais componentes -como botões e acabamentos -ela disse em um e-mail.
Na Bon-Ton, os preços no varejo de roupas da marca própria aumentaram cerca de 5 a 8% este ano, disse Steve Villa, vice-presidente sênior da marca própria na empresa. A Bon-Ton vem recorrendo a diferentes fórmulas, que incluem suéteres mistos com diversas fibras sintéticas, para evitar novos aumentos.
É claro, conforme as confecções aumentam o preço dos produtos de algodão e também tentam reduzir sua dependência desse material, existem alguns riscos. Para começar, não há certeza se os compradores aceitarão pagar mais por produtos de algodão.
E -para tristeza de muitos puristas da moda- como os preços provavelmente não cairão durante algum tempo, poderá haver uma melhor aceitação de tecidos como poliéster.
"Podemos estar treinando uma nova geração para aceitar mais as fibras sintéticas, o que provavelmente vai prejudicar o mercado de algodão em longo prazo", disse Johnson, a analista do First Capital Group.


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