São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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GPS ajuda a monitorar animais em movimento

Por NATALIE ANGIER

ILHA BARRO COLORADO, Panamá - Um grupo estava vasculhando a floresta em busca de macacos-prego de cara branca, os conhecidos macacos de pêlos revoltos, olhos perfurantes e expressões impacientes. Os macacos-prego são considerados excepcionalmente inteligentes. "Nada parece acalmá-los", diz a primatologista Margaret Crofoot, 29. "Eles nunca param de se mexer."
Crofoot e outros cientistas do Instituto Smithsonian de Pesquisas Tropicais estão entusiasmados com um novo sistema para acompanhar seus objetos de estudo, que poderá ajudar a revolucionar o trabalhoso ramo da biologia de campo.
Chamado Sistema Automatizado de Radiotelemetria, o método conta com sete torres de rádio de 40 metros de altura espalhadas pela ilha Barro Colorado (Panamá), que são capazes de monitorar os dados de muitos indivíduos ao mesmo tempo, 24 horas por dia, o ano inteiro. Depois que o animal é equipado com um dispositivo transmissor, as torres podem rastrear sua assinatura de rádio única e, por meio de um processo de triangulação, indicar onde ele se situa na ilha, se está se movendo ou em repouso, quais outros indivíduos equipados com rádio ele encontra.
Os fluxos de dados constantes são incluídos em computadores num laboratório central na ilha, permitindo que os pesquisadores acompanhem muito mais atividades dos animais do que poderiam por meio da observação direta.
Os cientistas podem marcar e rastrear gafanhotos, abelhas, borboletas e até sementes de plantas.
"Sistemas automatizados como este estão trazendo uma nova era de rastreamento animal", disse Roland Kays, outro associado do instituto de pesquisas. A aplicação de torres de radiotelemetria, satélites de posicionamento global e outros ciberequipamentos no mapeamento e decifração do mundo natural gerou uma nova subdisciplina, chamada de "ecologia do movimento".
Kays está aplicando o sistema de rastreamento para explorar o relacionamento dinâmico entre a população de ocelotes (espécie de felino) da ilha, as cutias e as enormes árvores Dipteryx. As cutias adoram as sementes de Dipteryx e as que elas não comem imediatamente enterram para consumir mais tarde. A Dipteryx precisa da cutia para enterrar suas sementes, antes que besouros e outros animais as destruam, mas a árvore quer que o roedor desapareça convenientemente. Os ocelotes adoram cutias; os roedores são sua mais importante fonte de alimento. A pergunta que Kays faz é: quantos membros de cada setor são necessários para sustentar o equilíbrio correto?
Os pesquisadores admitiram que a manutenção de uma rede computadorizada complexa nas condições úmidas de uma floresta tropical é sempre delicada. Além disso, etiquetar os animais é difícil, especialmente os inteligentes e assustadiços, como os macacos-pregos.
Por enquanto, apenas cinco dos cerca de 250 a 300 macacos da ilha estão equipados com colares de rádio, um número que Crofoot espera duplicar ou triplicar. Quando ela puder vigiar simultaneamente uma amostragem representativa de 15 a 20 grupos sociais de macacos que vagam pela ilha poderá abordar melhor seu interesse por política intertribal.
"Há décadas de trabalho que examinam as relações sociais em grupos de primatas", ela disse. "Mas os primatas têm vizinhos e estão com esses vizinhos durante décadas, por isso a questão é: como são esses relacionamentos?"
Evidências iniciais sugerem que os macacos-prego são xenófobos, mas não imperialistas. "Os dados de rastreamento indicam que há muita cautela de longa distância", disse Crofoot. Os macacos ficam afastados de suas "zonas desmilitarizadas", onde o território de um grupo se sobrepõe ao de outro.
A melhor maneira de vencer uma guerra é não começar uma: simplesmente genial.


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