São Paulo, segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

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Após 100 milhões de tentativas, um salto ao teletransporte

Por KENNETH CHANG

Sem o charme da série de TV "Jornada nas Estrelas", cientistas alcançaram um marco na comunicação: teletransportar a identidade quântica de um átomo para outro a cerca de um metro de distância.
A invenção é uma mistura de câmaras a vácuo, lasers e divisores de raios semitransparentes do Instituto Joint Quantum em Maryland (EUA).
Mesmo num futuro distante, os transportadores que figuravam em "Jornada nas Estrelas" provavelmente continuarão sendo uma fantasia, mas o mecanismo poderia formar um importante componente em novos tipos de comunicação e computação.
O teletransporte quântico depende de um dos mais estranhos emaranhados da mecânica quântica. Duas partículas tornam-se "emaranhadas" em uma única entidade, e uma modificação em uma delas imediatamente altera a outra, mesmo que esteja distante.
Antes, os físicos demonstraram que podiam usar o teletransporte para transferir informação de um fóton para outro ou entre átomos próximos. Na nova pesquisa, cientistas usaram a luz para transferir informação quântica entre dois átomos bem distantes.
"É essa abordagem híbrida que parece interessante", disse Christopher Monroe, físico da Universidade de Maryland e autor da pesquisa, publicada em 23 de janeiro na revista "Science".
No experimento, dois íons de itérbio, resfriados a uma fração de um grau acima de zero, serviram como duas moedas quânticas. Um pulso de micro-onda escreveu informação quântica em um deles; um segundo pulso de micro-onda colocou o íon em um estado de probabilidades iguais de cara ou coroa.
Então um laser induziu cada íon a emitir exatamente um fóton, captado por uma lente e conduzido através de fibras ópticas para um divisor de raios capaz de refletir os fótons ou deixá-los passar.
Dois detectores capturaram e registraram os fótons. Como não se sabia qual fóton vinha de qual átomo, os fótons tornaram-se "emaranhados", o que significa que o comportamento das duas partículas tornou-se mesclado em uma única equação, apesar de eles não estarem no mesmo lugar. E, estranhamente, como os fótons foram emitidos pelos íons, os dois íons também se tornaram emaranhados.
"Essa é a magia do emaranhamento", disse Monroe. "Agora os átomos estão emaranhados. Os fótons se foram, saíram de cena."
A informação do primeiro íon foi então medida de maneira que não revelasse a informação, e isso teletransportou a informação para o segundo íon.
Mas o método não é prático por enquanto, porque falha na maioria das vezes: somente uma em cada 100 milhões de tentativas de teletransporte dá certo.


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