São Paulo, segunda-feira, 17 de maio de 2010

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Uma Paris apenas para conhecedores

Por SETH SHERWOOD
PARIS - Em apartamentos particulares, prédios sem placas, becos sem saída e caves subterrâneas, vários novos estabelecimentos escondidos estão surgindo às sombras da Cidade Luz.
Numa ponta do espectro estão pequenos clubes gastronômicos como o Hidden Kitchen ou o ainda mais obscuro Chez Nous, Chez Vous, resultado da guinada de um casal brasileiro que deixou empregos sem perspectiva no seu país para fazer cursos de chef no Le Cordon Bleu. Na outra ponta estão hotéis luxuosos e supercaros, como o La Réserve, que consiste em dez apartamentos num sofisticado e anônimo edifício próximo à place du Trocadéro.
Essa nova safra de restaurantes, hotéis, galerias e salões formam uma espécie de Paris privada -pairando acima do radar normal dos turistas e se disseminando discretamente no boca a boca e nos blogs de quem entende das coisas.
Para os bem informados, a recompensa é uma experiência notavelmente parisiense. Para os proprietários, estar fora da visão pública e restringir o acesso garante maior autonomia e mais intimidade com os clientes.
"Mais do que uma oportunidade de cozinhar, queríamos a oportunidade de fazer amigos", disse o americano Braden Perkins, que criou o Hidden Kitchen junto com a namorada, Laura Adrian.
"Achávamos que faríamos isso uma vez por mês, convidaríamos alguns desconhecidos legais, reuniríamos uma gente legal na mesa, estabeleceríamos uma conversa e daí conheceríamos algumas pessoas novas", afirmou. O conceito rapidamente pegou, e agora o casal serve dois jantares por semana, a 80 euros. O menu -que Perkins descreveu como "neoamericano, pan-europeu"- muda a cada mês.
Para me educar quanto ao companheiro essencial da comida -o vinho-, voltei ao bairro do Louvre, me encolhi sob uma arcada escura na rue de l'Arbre Sec, cruzei um pátio aberto e me meti por escadarias até uma cave de pedra.
Fui recebido por Olivier Magny, 29, um francês jovial, de fala rápida. Ele também largou uma carreira -era estudante de administração- para ir atrás do seu sonho: ensinar aos estrangeiros as complexidades de burgundys, sauternes e outros vinhos franceses.
"Sempre gostei da ideia do vinho", disse. "Tinha um pouco de poesia. Toda vez que eu ia a uma degustação de vinhos ou a uma vinícola eu achava que as pessoas eram realmente alegres."
Em 2004, ele fundou o Ô Chateau, que começou organizando eventos de degustação no lugar mais barato e confortável que ele encontrou: a casa dos pais. Em janeiro de 2009, a operação havia crescido tanto -eram 15 a 20 degustações e almoços enológicos, passeios de barco regados a champanhe e outros eventos por semana- que ele literalmente levou o seu negócio para baixo. Apropriadamente, o espaço subterrâneo, chamado Les Caves Du Paradis, já foi a adega particular do rei Luís 15. Embora tenha começado a aparecer em guias turísticos, o local ainda tem um ar de bar clandestino.
"Quero que as pessoas se sintam como convidadas, não como clientes", explicou Magny. "Gosto do fato de que esteja fora da principal trilha turística em Paris."
O mais inovador desses lugares da "Paris privada" é a Box in Paris, instalada em meio aos bulevares iluminados por neons e aos teatros pornôs do Pigalle, famosa zona de prostituição da cidade. Ali é possível ver uma exposição de arte à tarde; pegar um filme, uma leitura dramática ou um show de rock à noite (há um evento por semana); dormir em um dos dois quartos alugados para hóspedes (mobiliados como suítes de um hotel- boutique); e, no dia seguinte, aproveitar o café da manhã.


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