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Por que tem gente que odeia tanto o coentro?
Predisposição genética pode explicar rejeição
Por HAROLD McGEE
O coentro parece inspirar uma repulsa primitiva entre uma inflamada minoria de
gastrônomos.
O abalizado "Oxford Companion to Food" nota que o termo inglês "coriander" (como o
português coentro) seria derivado da palavra grega para percevejo, que o aroma de
coentro "já foi comparado ao cheiro de roupas de cama infestadas por percevejos", e
que "os europeus com frequência têm dificuldade em superar sua aversão inicial ao seu
cheiro".
Mas o coentro é alegremente consumido por milhões de pessoas do mundo,
especialmente na Ásia e América Latina. Os portugueses colocam punhados nas sopas.
O que então torna o coentro tão desagradável para as pessoas de culturas que não o
usam muito?
Algumas pessoas podem ter predisposição genética a não gostar de coentro, segundo
estudos sempre citados de Charles Wysocki, do Centro Monell dos Sentidos Químicos
(Filadélfia).
A antropóloga Helen Leach, da Universidade de Otago (Nova Zelândia), recuperou
menções desabonadoras ao sabor do coentro e à sua etimologia já nos manuais ingleses
de jardinagem e em livros franceses de agricultura publicados em torno de 1600. Ela
sugere que o coentro foi menosprezado como parte de um esforço geral para definir uma
nova mesa europeia, em contraposição a sabores antigos.
Os coentrófobos modernos tendem a comparar o seu sabor ao sabão, e não a insetos.
Ambas as associações, na verdade, fazem sentido quimicamente.
Os químicos do paladar descobriram que o aroma do coentro é criado por uma meia
dúzia de substâncias, a maioria das quais são fragmentos modificados de moléculas
adiposas chamadas aldeídos. Aldeídos iguais ou semelhantes são também encontrados
em sabões e loções, e em insetos da família dos percevejos.
Jay Gottfried, neurocientista da Universidade Northwestern que estuda como o cérebro
percebe os odores, disse que o racha em torno do coentro reflete a importância primitiva
do cheiro e do paladar na sobrevivência e a constante atualização do cérebro em seu
banco de dados de experiências.
Quando provamos uma comida, disse ele, o cérebro busca na memória um padrão de
experiência anterior à qual aquele sabor pertence. Mas, ao mesmo tempo, a mente
atualiza e amplia o seu conjunto de padrões, e isso pode levar a mudanças na forma
como avaliamos se uma comida é desejável ou não.
"Então comecei a gostar de coentro", disse ele. "Ele ainda me lembra sabão, mas não é
mais ameaçador, então essa associação fica para trás, e eu desfruto das suas outras
qualidades. Mas se eu comesse coentro uma vez e nunca mais deixasse que ele passasse
de bom grado pelos meus lábios, não haveria uma chance de remoldar essa percepção."
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