São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Flertes bem pagos prosperam no Japão

Em uma economia fraca, ser anfitriã dá certa respeitabilidade

Por HIROKO TABUCHI

TÓQUIO - As mulheres que servem bebidas nos elegantes clubes masculinos do Japão já foram rejeitadas porque seu trabalho era considerado vergonhoso: prestar um atendimento muito dedicado (embora não sexual) ao homens, por uma taxa elevada.
Mas, como essa linha de trabalho, de acompanhantes ou anfitriãs, é um dos empregos mais lucrativos disponíveis para mulheres, e com o país em profunda recessão, os cargos de anfitriã são cada vez mais cobiçados, e as profissionais estão ganhando respeitabilidade e até reconhecimento. A pior recessão no Japão desde a Segunda Guerra está mudando costumes.
"Mais mulheres de diversos meios sociais estão procurando trabalho como anfitriãs", disse Kentaro Miura, que ajuda a administrar sete clubes em Kabuki-cho, o reluzente bairro da "luz vermelha" em Tóquio. "É visto como um emprego glamouroso."
Mas por trás dessa tendência existe uma realidade nada glamourosa. As oportunidades de emprego para jovens mulheres, especialmente as que não têm educação superior, muitas vezes se limitam a empregos de baixo salário, sem futuro ou temporários.
Mesmo antes da crise econômica, quase 70% das mulheres entre 20 e 24 anos trabalhavam em cargos com poucos benefícios e pequena segurança no emprego, segundo uma pesquisa do governo. A situação piorou na recessão.
Por esse motivo, um número crescente de jovens japonesas parece acreditar que o trabalho de anfitriã, que pode render facilmente US$ 100 mil por ano e até US$ 300 mil para as grandes "estrelas", faz sentido economicamente.
Mesmo anfitriãs em meio período e as que estão na ponta inferior da escala ganham ao menos US$ 20 por hora, quase o dobro da maioria dos cargos temporários em escritórios.
Em uma pesquisa de 2009 do Instituto de Estudos de Cultura de Tóquio com 1.154 estudantes japonesas, o trabalho de anfitriã ficou em 12? lugar entre as 40 profissões mais populares, à frente de funcionária pública (18) e enfermeira (22). "Só quando você é jovem pode ganhar dinheiro para apenas beber com os homens", disse Mari Hamada, 17.
Muitos dos clubes de cabaré, ou "kyabakura", são estabelecimentos forrados de madeira escura, onde garçons de gravata borboleta e anfitriãs em vestidos de noite circulam entre os clientes bebendo vinhos caros.
Algumas das moças trabalham a pagar os estudos ou para economizar e abrir suas próprias empresas.
Ser anfitriã não significa prostituição, embora grupos religiosos e de mulheres apontem que as anfitriãs podem ser pressionadas para ter sexo com os clientes e que o trabalho pode ser um ponto de entrada para a crescente indústria subterrânea do sexo no Japão.
As anfitriãs dizem que são casos raros e que o risco mais comum em sua profissão é o cansaço da vida de festas.
As jovens são atraídas, assim mesmo, por histórias de Cinderela como a de Eri Momoka, uma mãe solteira que, depois de se tornar anfitriã, saiu da pobreza, começou uma carreira na TV e tem sua própria linha de roupas e acessórios.
"Muitas vezes recebo correspondência de jovens garotas na escola primária que dizem que querem ser como eu", diz Momoka, 27. "Para uma garota, uma anfitriã é como uma princesa moderna."
As anfitriãs muitas vezes são classificadas de acordo com a popularidade entre os clientes, e a número um de cada clube assume uma posição de estrela. A cultura popular também alimenta a fama das anfitriãs. Os seriados de TV começam a mostrar anfitriãs de cabaré como mulheres que constroem carreiras de sucesso. As anfitriãs também estão escrevendo livros best-sellers, seja sobre administração financeira ou a arte da conversa.
Uma revista que apresenta moda de anfitriãs tornou-se muito popular entre as mulheres fora do ramo, que imitam a maquiagem pesada e o cabelo de penteado volumoso.
Mas Serina Hoshino, 24, outra anfitriã de Tóquio, está exausta de dormir tarde e beber muito. Durante uma ida ao cabeleireiro, ela falou sobre encontros com os clientes depois do trabalho. Como volta para casa de madrugada, ela dorme o resto do dia. Nos dias de folga quase não sai do apartamento.
Sua recompensa são cerca de US$ 16 mil por mês, quase dez vezes o salário da maioria das mulheres de sua idade. "É bom ser independente, mas muito cansativo", disse Hoshino, em meio a uma nuvem de laquê e fumaça de cigarro.


Texto Anterior: Escassez eleva preço do açúcar na Índia
Próximo Texto: Aeroflot livra-se do legado soviético e opta por uma frota ocidental

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.