São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Estudos mostram importância do baço na defesa do corpo

Órgão mantém "exército" de células imunológicas

Por NATALIE ANGIER

Cientistas descobriram que o baço, por muito tempo considerado de segunda classe entre os órgãos abdominais e conhecido tanto por seu valor metafórico quanto pelo fisiológico, tem um papel mais importante no sistema de defesa do corpo do que se suspeitava.
Em artigo na revista "Science", pesquisadores do Hospital Geral de Massachusetts e da Escola de Medicina de Harvard, nos EUA, descrevem estudos que mostram que o baço é um enorme reservatório de células imunológicas chamadas monócitos e que, no caso de um trauma sério no corpo, como um ataque cardíaco ou uma invasão de micróbios, o baço libera essa multidão de monócitos na corrente sanguínea para enfrentar a crise.
"A comparação em termos militares é com um exército de prontidão", disse Matthias Nahrendorf, um dos autores do artigo. "Você não quer ter de recrutar toda uma força de combate do zero cada vez que precisar."
O fato de pesquisadores estarem descobrindo uma característica importante de um órgão que é estudado há pelo menos 2.000 anos demonstra mais uma vez que não há nada tão desconhecido quanto o corpo humano.
"Muitas vezes, quando se encontra algo no corpo que parece uma grande coisa, pensamos: 'Por que ninguém verificou isso antes?'", disse Nahrendorf. "Mas, quanto mais você aprende, mais percebe que estamos apenas raspando a superfície da vida."
Nahrendorf, juntamente com Filip K. Swirski, Mikael J. Pittet e outros colegas, realizou os estudos iniciais usando camundongos, mas os cientistas suspeitam que os resultados também se aplicarão aos seres humanos.
Trabalhos recentes também dão um toque de cautela contra subestimar uma parte do corpo ou considerá-la um vestígio dispensável ou decadente. Em um ensaio paralelo, Ting Jia e Eric G. Pamer, do Centro de Câncer Memorial Sloan-Kettering, admitem que "o baço não tem a atração dos órgãos vizinhos", como o fígado ou o estômago, "porque podemos sobreviver sem ele".
O baço pode se romper durante esportes de contato, por exemplo, ou em um acidente de moto, casos em que os cirurgiões não têm outra opção senão removê-lo.
As novas descobertas de modo algum contrariam a necessidade de extirpar um baço rompido, dizem os pesquisadores, mas sugerem que a perda do órgão é mais que uma simples "inconveniência", como muitas vezes foi considerada, e pode ajudar a explicar relatos anteriores que mostram um risco maior de morte precoce entre pessoas que sofreram esplenectomia (a remoção do baço).
Outro motivo para estimar o baço -um órgão arroxeado do tamanho de um punho, com 150 gramas, logo atrás do estômago- é seu ilustre histórico médico.
Pesquisadores determinaram que o baço é como um elaborado filtro de sangue, extraindo os parasitas, as células sanguíneas velhas e as bolinhas oxidadas que muitas vezes salpicam as células vermelhas do sangue. O baço também foi frequentemente chamado de cemitério de células vermelhas, mas é mais um centro de reciclagem, pois o ferro e outras substâncias são usados para estocar novas gaiolas de hemoglobina.
Filtragem, canibalização e agora cultivo de monócitos. No novo estudo, os pesquisadores começaram examinando os monócitos, as maiores células brancas do corpo. "Foi reconhecido que essas células são as principais trabalhadoras de reparo após um ataque cardíaco", disse Nahrendorf. "Elas removem células mortas do músculo, começam a reconstruir tecido estável de cicatriz e estimulam a geração de novos vasos sanguíneos."
Segundo os pesquisadores, os monócitos, como todas as células sanguíneas, nascem na medula óssea e em certo momento migram para o baço. Ali, elas esperam, mas quando são despertadas por reações químicas de danos como angiotensina, as células se arregimentam em uma reação que os pesquisadores esperam um dia compreender melhor.


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