São Paulo, segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

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Ásia busca vantagens no Vale do Silício

Por ASHLEE VANCE

SUNNYVALE, Califórnia - O processo se manteve mais ou menos igual durante anos: produtores de computadores, como HP e Apple, dotados de laboratórios de pesquisas e departamentos de design povoados por bons profissionais, idealizavam seu próximo produto e então contratavam um fabricantes chinês ou taiwanês para produzir as unidades ao custo mais baixo possível.
Recentemente, porém, essa divisão tradicional de trabalho vem mudando. Muitas daquelas manufatureiras asiáticas avançaram, assumindo controle maior sobre a aparência e a sensação dos computadores pessoais, "smartfones" e até mesmo sites de amanhã.
As grandes manufatureiras taiwanesas e chinesas criaram no Vale do Silício uma rede de investimentos que injeta dinheiro em empresas de chips, softwares e serviços, para ganhar acesso à tecnologia mais recente. Com isso, alguns fabricantes asiáticos passaram a mostrar-se mais abertos a empreendimentos de risco do que os investidores tradicionais do Vale do Silício.
"No passado, os fabricantes fuçavam e conseguiam informações privilegiadas sobre tecnologia, investindo nessas empresas", contou K. Bobby Chao, sócio da DJF DragonFund China, empresa que investe em companhias de tecnologia da China e dos EUA. "Agora eles estão mais envolvidos, mais visíveis e estão realizando manobras mais complexas."
Os investimentos asiáticos no Vale do Silício criam alguns riscos às grandes empresas de tecnologia americanas, que podem perder sua conexão com as inovações mais importantes. Graças a isso, manufatureiras asiáticas como Foxconn ou Quanta podem acabar em posição de vantagem nas áreas de pesquisas e design.
"Os fabricantes estão ficando mais competitivos com relação às inovações. Em alguns casos, já estão competindo diretamente com seus clientes", disse Patrick Moorhead, vice-presidente da Advance Micro Devices, importante fabricante de chips para PCs.
As apostas dos asiáticos começam a render frutos. Na Feira de Eletrônica para Consumidores, em Las Vegas, neste mês, as pessoas viram laptops que se iniciam imediatamente e televisores que dispensam o controle remoto: conseguem captar os gestos dos espectadores. Essas novidades são frutos de investimentos estratégicos feitos por fabricantes asiáticos.
Um deles, convertido em investidor, é a Quanta, sediada em Taiwan, que há anos é uma das maiores fabricantes de laptops e computadores pessoais para marcas como HP, Acer e Dell.
Para conservar esses clientes, ela precisa de designs de produtos e tecnologias únicos. Em outubro passado, a Quanta investiu US$ 10 milhões na Tilera, fabricante principiante de chips no coração do Vale do Silício, que desenhou um processador de computadores radical. A Tilera está apostando em suas chances de conquistar parte dos clientes de fabricantes de chips como Intel e AMD.
A Quanta também se uniu a um grupo que está investindo US$ 16 milhões na Canesta, outro fabricante de chips no Vale do Silício. Quando acoplados a uma câmera digital, os produtos da Canesta possibilitam que computadores e televisores enxerguem objetos em 3D. Isso permitiria mover fotos ou documentos pelo desktop de um computador ou mudar os canais de TV com um gesto de mão.
Elton Yang, vice-presidente da Quanta, disse que é muito provável que a tecnologia chegue a laptops ainda em 2010. Com o tempo, todos os fabricantes de computadores pessoais terão a oportunidade de adquirir a tecnologia da Canesta, mas o investimento feito pela Quanta proporciona a ela uma dianteira temporária no design.
"As companhias de PCs estão procurando um futuro novo, e nós queremos atraí-las para nossas máquinas", disse Yang.
O executivo-chefe da Canesta, James Spare, elogiou a disposição de companhias como a Quanta em apoiar empresas recém-criadas e de alto risco que precisam de anos para converter ideias em produtos. "Não é segredo que essas empresas produzem a maioria dos artefatos que usamos em nosso cotidiano", disse Spare. "E estão se tornando cada vez mais influentes em matéria de inovações."
As firmas asiáticas frequentemente apostam em projetos que pesos-pesados financeiros do Vale do Silício deixam passar, porque a recompensa potencial é pequena e pode demorar para se concretizar. Para Chao, as firmas asiáticas "estão pensando que não ganharam sua fatia justa do bolo tecnológico no passado. Agora elas têm dinheiro e estão dispostas a assumir os riscos".
Para os empreendedores do Vale do Silício, o dinheiro que vem de Taiwan e China é uma benção. "É ótimo dispor de outra fonte de recursos", disse Spare, da Canesta.


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