São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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LENTE

Pesando bem as palavras

Logo quando toda a linguagem parecia seguir a tendência de encurtamento do Twitter e das mensagens de celular, a concisão começa a sofrer um revés. Mais palavras de repente têm mais significados, e elas estão nos obrigando a parar para pensar.
"A natureza do Twitter é que você não precisa pensar no que está dizendo", disse ao jornal "The New York Times" a escritora Katie Roiphe. "A maioria de nós precisa pensar mais no que dizemos, e não menos."
A Suprema Corte dos EUA tem feito exatamente isso. O uso de dicionários disparou nas últimas duas décadas para que os juízes ponderem o significado de cada termo.
Só em maio, eles citaram dicionários em oito casos para determinar o que os legisladores quiseram dizer quando usaram palavras como "impedir", "adiar" ou "relatar", segundo o "Times". Até palavras banais, como os equivalentes em inglês a "de", "agora", "também", "qualquer" e "se", foram examinadas para perplexidade dos lexicógrafos.
"Acho provavelmente errado, em quase todas as situações, usar um dicionário no plenário da corte", disse ao "Times" Jesse Sheidlower, do "Oxford English Dictionary". "As definições dos dicionários são escritas com um monte de coisas em mente, mas circunscrever rigorosamente as conotações e os significados exatos dos termos não costuma ser uma delas."
No entanto, um estudo na "Marquette Law Review" mostrou que os juízes da Suprema Corte usaram dicionários para definir 295 palavras ou frases em 225 processos ao longo de dez anos, começando em outubro de 2000. Na década de 1960, os dicionários foram usados para definir 23 termos em 16 processos, relatou o "Times".
Nem mesmo as terminações ".com", ".net" ou ".org" nos endereços de internet parecem suficientemente significativas hoje em dia. A Icann (Corporação da Internet para Atribuição de Nomes e Números, na sigla em inglês) recentemente aprovou vasta expansão dos endereços da web. Prepare-se para URLs mais prolixas e descritivas, terminando em frases como iwant.beer ("quero cerveja"), whatsfor.dinner ("o que há para o jantar") ou .whateveryouwant ("qualquer coisa que você quiser").
Deus também diz que "não serás breve". A Igreja Católica tem preparado mudanças significativas nas missas a partir de novembro nos EUA, tornando-as mais formais e mais próximas do latim litúrgico, contou o "Times".
O Credo Niceno (uma declaração de fé recitada), por exemplo, não dirá mais que Jesus foi gerado "da mesma substância do Pai", mas que é "consubstancial ao Pai". O padre Richard Hilgartner disse ao "Times" que a nova versão é "um pouco mais poética e evocativa, em termos de imagens e metáforas".
Para vender tintas num momento de estagnação do mercado imobiliário, as fábricas estão usando nomes que contam uma história ou evocam lembranças e emoções, escreveu o "Times". Eles só não revelam a cor. A Valspar tem o "fim de semana no campo". A Benjamin Moore lançou "romance à moda antiga" e "sonho que eu posso voar". Embora essas palavras não remetam o consumidor a uma cor precisa, elas o fazem parar para pensar.
"Por mim, tudo ótimo se um determinado nome dá às pessoas um momento pensativo", disse ao "Times" Sue Kim, da Valspar. "Se uma olhada de três segundos nos render outros cinco segundos enquanto a pessoa faz uma pausa para pensar no que é esse 'metrô das 5', então acho isso bom."
ANITA PATIL

Escreva para nytweekly@nytimes.com


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