São Paulo, segunda-feira, 18 de julho de 2011

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A capital do acordeão encolhe e prospera

Por ELISABETTA POVOLEDO
CASTELFIDARDO, Itália - Da Argentina, do Chile, da França e de outros lugares distantes, aficionados pelo acordeão viajam até aqui para comprar um pouco da excelência industrial italiana.
"Eles são os melhores", disse o chileno Salomon Salcedo sobre os acordeões de Castelfidardo. "Você não vai encontrá-los nas lojas; eles precisam ser feitos sob encomenda. E este é o lugar para vir."
Logo após a Segunda Guerra Mundial, quando orquestras só de acordeões eram habituais nas festas dos imigrantes italianos nos EUA, Castelfidardo despejava seu produto no mercado às dezenas de milhares.
As pessoas aqui ainda citam Elvis Presley e Beatles como os causadores da sua desgraça econômica. Agora, anos depois de a guitarra elétrica se tornar o instrumento preferido da música popular -e de quase toda a produção de modelos básicos de acordeão se transferir para a Ásia-, Castelfidardo vem deslocando seu foco da quantidade para a qualidade. Isso permite que a cidade preserve uma atividade crucial, ainda que de forma muito reduzida.
"Nossos acordeões são como roupas sob medida", disse Francesca Pigini, que dirige empresa fundada por seu avô em 1946. "Para nós, é um prazer e um enriquecimento trabalhar e colaborar com artistas e pessoas que fazem da música uma parte importante das suas vidas."
A Pigini é a maior fabricante de acordeões em Castelfidardo, dividindo sua produção entre instrumentos adaptados a gêneros como polca, valsa e "easy listening", e aqueles usados no repertório clássico, que cresceu desde que Tchaikovsky incluiu parte de acordeão numa suíte de 1883 -um marco, segundo os acordeonistas. A empresa produz cerca de 60 modelos, que custam de € 2.000 a € 30 mil.
Das empresas em Castelfidardo, a Pigini é uma das poucas que produzem quase todas as peças na sua própria oficina. Seus cerca de 40 trabalhadores qualificados fabricam em torno de 1.500 instrumentos por ano.
O acordeão tem origens na China há 5.000 anos, mas a ligação de Castelfidardo com o instrumento remonta a 1863, quando Paolo Soprani abriu sua loja, onde aplicava estratégias industriais modernas a uma atividade artesanal, a fim de ampliar seus negócios.
A produção em Castelfidardo atingiu o pico em 1953, quando cerca de 200 mil instrumentos eram fabricados anualmente em dezenas de fábricas, dando emprego a umas 10 mil pessoas. Hoje, apenas 27 empresas permanecem, em geral fábricas de pequeno porte, com cerca de 300 empregados.
Mas a precisão e a habilidade necessárias aos acordeões -que exigem a montagem de 6.000 peças ou até mais- foram transferidas para outros setores. Nos últimos 30 anos, Castelfidardo tem se destacado em atividades como mecânica e marcenaria.
O acordeão responde por cerca de 15% da atividade econômica local. "Castelfidardo significa alta qualidade, e nós estamos no topo desse nicho de mercado", disse Francesco Mengascini, cuja empresa produz cerca de 800 acordeões por ano, sob a marca Beltuna.
A China se tornou a maior fabricante mundial de acordeões básicos, mas muita gente em Castelfidardo vê a produção asiática como uma dádiva. "Não estamos pessimistas quanto ao futuro, pois jovens tocadores chineses vão se tornar profissionais, e quando eles estiverem procurando instrumentos mais importantes, aonde virão? Para a Castelfidardo", disse Paolo Picchio, presidente do Consorzio Music Marche Accordions, que reúne produtores e divulgadores do instrumento.
A engenhosidade tem ajudado a manter à tona a principal atividade industrial de Castelfidardo. Marco Tiranti, afinador e restaurador de acordeões, decidiu há dois anos criar sua empresa, a Euphonia, depois de patentear uma inovação que produz "um som mais cálido e doce". Tiranti, que produz cerca de 20 instrumentos por ano, admite que esse mercado está saturado. "Se você não tem algo novo, nem vale a pena tentar."
Ainda assim, a crise mundial está cobrando seu preço. Tiranti disse que os fabricantes poderiam se beneficiar de uma abordagem coordenada. "O pequeno pode ser belo, mas, em um mercado global, a sinergia pode ser a única forma de sobreviver".


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