São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2010

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Avanço da China resulta em temor no Japão

Por HIROKO TABUCHI
MISASA, Japão - Um plano de construtoras chinesas de investir nesta pequena cidade nas montanhas do Japão abriu uma janela que permite vislumbrar uma crise de confiança japonesa.
Para os moradores de Misasa, a obra planejada -casas de férias para chineses ricos- representa uma injeção bem-vinda de capital em uma cidade que vem declinando desde a década de 1980.
Visto desde outras partes do Japão, contudo, o investimento representa uma tomada de terras que ameaça as florestas e os rios intocados do país, além de servir como lembrete da sombra crescente lançada pela China, que há pouco tempo ultrapassou o Japão para tornar-se a segunda maior economia do mundo, depois dos EUA.
O medo de que "dinheiro da China" estaria comprando terras do Japão vem crescendo, alimentado por relatos da mídia e ansiedade diante do declínio econômico de Tóquio, sem falar na presença de um vizinho rico e cada vez mais hostil.
O recuo recente de Tóquio em relação à detenção do capitão de uma traineira chinesa e a suspensão pela China do envio de recursos industriais vitais ao Japão também vêm causando ansiedade entre muitos japoneses.
"Os chineses ricos gastam dinheiro de maneiras que não existem mais no Japão", disse Kiyomi Kawakami, construtor que pretende erguer 47 residências de luxo com sócios de Xangai.
Aproveitando a queda nos preços de ativos, empresas chinesas gastaram US$ 120 milhões no primeiro semestre deste ano para adquirir vários empreendimentos japoneses pequenos e médios, revelou um relatório recente do Goldman Sachs. A cifra é seis vezes maior que a do período comparável do ano passado. A China também já é a maior parceira comercial do Japão.
Em setembro, o ministro das Finanças japonês, Yoshihiko Noda, pediu que políticos chineses "esclarecessem seus objetivos" depois de recentes aquisições de grandes volumes de títulos do governo japonês.
Tóquio receou que as aquisições estivessem ajudando a elevar o valor do iene, tornando as exportações japonesas menos competitivas, comparadas às da China. Desde então, contudo, cedendo às realidades econômicas, as autoridades do Ministério das Finanças vêm procurando atribuir menos importância ao conflito.
Mas os relatos sobre chineses comprando terras no Japão atingiram um nervo em cheio. Cerca de 70% das terras do Japão são montanhosas, recobertas de floresta, e as aquisições trouxeram à tona a possibilidade de a China ganhar controle das muito prezadas terras do interior.
A indústria madeireira japonesa está em queda, na medida em que o país vem sendo inundado por madeira importada barata. O resultado disso é que os preços de terras florestadas estão extremamente baixos.
Em janeiro, a Fundação Tóquio, respeitada organização independente de pesquisas, avisou que as compras de terras por estrangeiros podem colocar em risco a segurança nacional.
"Se esperarmos até a exploração dos recursos naturais do Japão por interesses globais avançar muito, pode ser tarde demais", disse o relatório da fundação.
Contudo, seja qual for a conveniência de vender para chineses ricos, o fato é que o Japão precisa do dinheiro.
"As pessoas me aconselham a não vender terras aos chineses", disse Kawakami, o empreendedor imobiliário.
"Mas sou um homem de negócios. Se alguém quiser comprar, eu me disponho a vender."


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