São Paulo, segunda-feira, 18 de outubro de 2010

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Fracassos afastam o brilho de uma nova Cuba

Por DAMIEN CAVE
MIAMI - Como muitos cubanos que vivem na ilha ou fora dela, Jorge Gomez é cético sobre o anúncio feito em setembro pela federação sindical cubana que pode mudar a forma da economia, dominada pelo Estado.
A declaração de que 500 mil trabalhadores do setor público serão demitidos e esperam encontrar trabalho em pequenas empresas privadas não foi o suficiente para se contrapor à memória que Gomez tem de aberturas econômicas que mais tarde foram fechadas por Fidel e Raúl Castro.
"Você começa uma coisa, e então eles o mandam parar", falou Gomez, 40, proprietário de uma firma de transferências de dinheiro em Miami. "É um sistema designado para não funcionar."
Mais de um mês já se passou desde que o presidente Raúl Castro disse à Assembleia Nacional que as "fileiras inchadas" do Estado seriam enxugadas, abrindo o caminho para o trabalho autônomo e para mais trabalhadores formarem cooperativas.
Especialistas dizem que as mudanças propostas são de âmbito muito maior que as anteriores; por exemplo, o governo declarou que, pela primeira vez em décadas, cubanos serão autorizados a contratar empregados que não são seus parentes.
Até agora, segundo analistas e proprietários de empresas, não foi verificado nenhum aumento evidente no dinheiro enviado à ilha por familiares de cubanos de Cuba, nem nos envios de bens que possam ajudar empreendedores a lançar-se em novos negócios.
Em lugar disso, o plano anunciado pelo governo suscitou tantas perguntas quanto as que respondeu. Onde as novas empresas vão se abastecer dos produtos de que precisam? Será que um influxo de capital para alguns, mas não para todos, vai fomentar o surgimento de novas tensões sociais e raciais, já que a riqueza cubano-americana se encontra entre os exilados brancos de Miami? Que impostos essas novas empresas vão pagar, e quanto lucro serão autorizadas a ter antes que o governo intervenha?
"As coisas mudam devagar em Cuba, porque eles se preocupam muito com a possibilidade de romper o equilíbrio de poder com reformas econômicas", disse Jorge Sanguinetty, presidente do grupo de pesquisas Associação para o Estudo da Economia Cubana.
Funcionário econômico sênior do governo cubano até renunciar a seu cargo em junho de 1966, Sanguinetty observou que muitos cubanos não têm nenhuma experiência em lidar com bancos, cheques ou cartões de crédito.
Por enquanto, as pessoas que voltam a Cuba regularmente ainda enxergam o futuro através das lentes de decepções passadas.
"Isso é apenas alguma coisa para mostrar ao mundo que Cuba está melhorando", disse Ernis Rodriguez, 36, pouco antes de voltar para visitar o país que deixou sete anos atrás. "Não é para valer."


Com reportagem de Elaine De Valle



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