São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Espécies de chimpanzés também sabem fazer guerra


Macacos patrulham e atacam membros de outros bandos

Por NICHOLAS WADE

Na maior parte dos dias, os chimpanzés machos de Ngogo, no Parque Nacional Kibale, em Uganda, se comportam como meninos, fazendo muito barulho ou batendo uns nos outros. Mas a cada dez ou 14 dias eles fazem algo mais adulto e cooperativo: a guerra.
Um bando de até 20 machos se move em fila única até o limite de seu território. Eles fazem um silêncio incomum enquanto verificam o topo das árvores e se assustam com qualquer ruído. "Está muito claro que estão procurando indivíduos de outra comunidade", diz o pesquisador John Mitani.
Quando o inimigo é encontrado, a reação da patrulha depende de sua avaliação da força adversária. Se os adversários parecem estar em número menor, os membros da patrulha correm de volta ao território doméstico.
No entanto, se um único chimpanzé tiver entrado em seu caminho, eles atacam. Os machos inimigos são espancados até a morte. As fêmeas geralmente são perdoadas, mas seus bebês são comidos.
Essas matanças têm um objetivo, mas este só ficou claro depois que as patrulhas de chimpanzés de Ngogo foram acompanhadas e catalogadas durante dez anos.
O grupo de Ngogo tem cerca de 150 chimpanzés e é especialmente grande, cerca do triplo do tamanho habitual. E seu tamanho o torna incomumente agressivo. Seus machos dirigiram a maioria de suas patrulhas contra um grupo de chimpanzés que vivia em uma região a nordeste do seu território.
No ano passado, os chimpanzés de Ngogo deixaram de patrulhar a região e a anexaram completamente, aumentando seu território doméstico em 22%, disseram Mitani, da Universidade de Michigan, e seus colegas em relatório publicado em "Current Biology".
O objetivo da campanha de dez anos foi claramente capturar o território, os pesquisadores concluíram. Os machos de Ngogo podiam controlar mais árvores frutíferas, suas fêmeas teriam mais para comer e assim se reproduziriam mais depressa e o grupo se tornaria maior e mais forte, com maior probabilidade de sobrevivência.
Portanto, a guerra dos chimpanzés é "adaptativa", concluíram Mitani e seus colegas, o que significa que a seleção natural incluiu esse comportamento no circuito neurológico dos chimpanzés porque os ajuda a sobreviver.
Os benefícios da guerra dos chimpanzés são claros. Os primatologistas documentaram as ligações em uma cadeia causal, provando, por exemplo, que as fêmeas com acesso a árvores frutíferas têm filhotes mais rapidamente.
Mas os chimpanzés podem prever o resultado de seu comportamento? Eles calculam que, se matarem seus vizinhos um a um, poderão um dia anexar seu território?
"Acho esse argumento difícil de sustentar porque a cadeia lógica parece ser profunda demais", diz Richard Wrangham, especialista em chimpanzés da Universidade Harvard.
Uma explicação mais simples é que os chimpanzés são inatamente agressivos em relação a seus vizinhos, e a seleção natural os moldou desta maneira por causa da vantagem de sobrevivência que cabe ao vencedor.
Wrangham diz que os chimpanzés e os seres humanos herdaram uma propensão para a territorialidade agressiva de um ancestral semelhante. Outros afirmam que o primo pacífico dos chimpanzés, o bonobo, é um modelo igualmente plausível para o ancestral comum.
Mitani reluta em atribuir qualquer ligação genética entre a guerra humana e a dos chimpanzés, apesar da semelhança de objetivos, custos e táticas.
Mais interessante que a guerra, na opinião dele, é o comportamento cooperativo que torna a guerra possível.
Observar chimpanzés é uma tarefa árdua, pois os pesquisadores devem primeiro habituar os macacos a sua presença. Os chimpanzés são muito fortes, e podem facilmente matar um pesquisador que atrair sua animosidade.
"O curioso é que, depois que conquistamos sua confiança, parece que desaparecemos no pano de fundo, e eles praticamente nos ignoram", diz Mitani.


Texto Anterior: Ciência & Tecnologia
"Meramente humano", um conceito velho

Próximo Texto: Demonstrar a raiva tem seu lado bom

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.