São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Jovens dos EUA aprendem balé na Rússia

Por CLIFFORD J. LEVY

MOSCOU - O oleoduto do balé costumava correr principalmente em uma direção. Os russos -Balanchine, Nureyev, Baryshnikov- foram (ou desertaram) para o Ocidente. Mas, hoje, vários jovens estrangeiros estão se aventurando no outro sentido para estudar na escola do Balé Bolshoi.
Tanto o choque cultural como as recompensas podem ser grandes. A escola, antes chamada de Academia Estatal de Coreografia de Moscou, foi fundada em 1773 e, embora aceite alunos estrangeiros, não pretende mudar seus métodos.
Trata-se de uma instituição do governo com cerca de 750 estudantes em tempo integral com idades que variam dos dez aos 18 anos. Entre eles estão cerca de 90 estudantes de diversos países, como Japão, Reino Unido, Finlândia e Grécia. O Extremo Oriente é fortemente representado. Os russos estudam de graça; os estrangeiros pagaram US$ 18 mil cada um em mensalidades neste ano.
Julian MacKay, 12, de Montana (EUA), e Joy Womack, 16, do Texas, vieram para Moscou como parte de um programa patrocinado pela Fundação Russo-Americana, organização sem fins lucrativos de Manhattan que promove laços culturais entre os países.
A fundação organiza uma sessão de verão nos EUA em que crianças americanas trabalham com instrutores do Bolshoi. No ano passado, Julian e Joy foram convidados a se matricular em tempo integral na academia em Moscou.
"Os padrões e a ética de trabalho são tais na Rússia que não há espaço para erros ou preguiça, não há espaço para ser simpático quando não é adequado", disse Joy.
Uma visita a uma aula de dança de Julian ofereceu um vislumbre de um dia dele. Sua professora, Olga Voynarovskaya, metralhava ordens em russo para cerca de dez meninos.
"Misha, levante-se", ela disse. "Ilya, não me aborreça. Você está dormindo?" Às vezes ela brincava, mas repetidamente apontava os erros de Julian. Ela reposicionou suas pernas e bateu em sua coxa. As marcas de seus dedos ficaram visíveis na pele dele.
Mais tarde, ela falou calorosamente sobre o menino, dizendo que ele progrediu. "Talvez ele não entenda russo muito bem, mas me compreende", ela disse.
"Julian vê os resultados nele mesmo", disse sua mãe, Teresa Khan MacKay, que mora com ele.
Joy tem a maturidade, para não falar na disciplina, de uma pessoa bem mais velha. Ela mudou-se para a Rússia por conta própria e vive no dormitório de estudantes. Em alguns dias ela não sai do edifício. Ela aprendeu sobre balé russo vendo vídeos na internet.
A princípio, sua família pensou que seu desejo de ir para Moscou fosse uma fantasia de adolescente, mas seus pais a deixaram ir. Embora ela nunca tenha se arrependido, tem surtos de solidão.
Seus professores dizem que Joy floresceu tanto que está sendo preparada para um importante papel em uma produção do Bolshoi com adolescentes. Ela disse que seu objetivo é entrar para a companhia. "Nos EUA eu nunca realmente senti que me encaixava", ela disse. "Eu quero ser russa. A Rússia me chama."


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