São Paulo, segunda-feira, 19 de julho de 2010

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Cinemas se revigoram em pequenas comunidades

Por PATRICIA LEIGH BROWN

LANGDON, Dakota do Norte - Toda noite, de sexta a segunda-feira, Amy Freier aguarda os fiéis no histórico Roxy Theater. "Você sabe quem virá", disse Freier, 1 dos 200 voluntários da cidade de cerca de 2.000 habitantes que mantêm aceso o néon do Roxy. "Eles fazem parte do cinema."
Em uma era de "streaming video" e DVD, o cinema na rua principal segue prosperando na Dakota do Norte, resultado de um movimento para manter no centro da vida comunitária as salas de projeção com suas marquises e fachadas desgastadas.
Nos cinemas de cidades de todo o Estado, os ingressos custam cerca de US$ 5, a pipoca, US$ 1,25, e a camaradagem é grátis.
"Se estivéssemos em Los Angeles ou Phoenix, o único motivo para ir a um cinema seria ver o filme", disse Cecile Wehrman, que, com membros da associação sem fins lucrativos Meadowlark Arts Council, ressuscitou o Dakota, em Crosby. "Mas, em uma cidade pequena, o cinema é como uma vizinhança. É o lugar para ver e ser visto, onde todos se encontram."
O renascimento não se limita à Dakota do Norte; cinemas como o Alamo, em Bucksport, Maine, o Luna, em Clayton, Novo México, e o Strand, em Old Forge, Nova York, também estão florescendo.
Mas nas grandes planícies americanas, onde as placas de trânsito podem ser vistas a 80 km de distância e o multiplex mais próximo fica a 320 km, ida e volta, o cinema de cidade -com uma tela, um filme por noite e só nos fins de semana- é uma força que resiste.
A tradição inclui uma delicada coreografia social (crianças na frente e adolescentes no fundo, longe dos olhos dos pais) e desafia a ferocidade da natureza (a temperatura no inverno pode congelar o óleo da máquina de pipoca).
Steve Hart, 40, agricultor em Langdon que ajudou a reviver o Roxy, fala sobre uma tempestade de neve paralisante no Natal, anos atrás. O telefone começou a tocar pouco depois.
"Vocês têm um filme?", as pessoas queriam saber. "Uma hora depois, havia 90 pessoas na rua principal, apesar de só haver uma passagem entre os montes de neve."
Para Tim Kennedy, professor de paisagismo que pesquisou os cinemas do Estado para fazer um livro, a vontade comunitária das cidades rurais que mantém os cinemas funcionando considera os locais um "capital social", forjado "fora dos cinemas de franquia e de sua onipresença nos shopping centers".
Dos 31 cinemas históricos em funcionamento identificados por Kennedy, 19 são dirigidos pela comunidade, e poucos mudaram desde os tempos em que projecionistas itinerantes enchiam seus carros com bobinas de filme e pegavam a estrada.
Para moradores mais velhos, os cinemas são um elo com o passado. O aluguel de DVDs é a maior ameaça, disse Babe Belzer, 74, que liderou o movimento para restaurar o Lyric. "Se você consegue uma sala cheia de crianças assistindo a um filme por apenas US$ 3...", ela disse. "Mas em um cinema", ela continuou, "o telefone não toca, ninguém bate à porta. É o coração e a alma da nossa cidade".


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