São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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Baladas do conflito são sucesso na Colômbia

Por SIMON ROMERO

EL RETORNO, Colômbia - Ele chegou a esta cidade, na borda do território da guerrilha, com seu séquito. Este incluía um produtor, um técnico de som, duas dançarinas com roupas exíguas e um empregado que carregava seu chapéu de caubói, suas botas de pele de cobra, sua tequila e, é claro, uma grossa corrente de ouro com um brasão ostentando seu nome: Uriel Henao.
"Uriel Henao precisa viajar com certos padrões", disse o cantor de 41 anos, referindo-se a si mesmo na terceira pessoa, como é seu costume. "As pessoas desses lugares esperam isso", explicou, depois que um comboio de caminhonetes e motocicletas buzinando, liderado pelo carro de bombeiros da cidade, marcou sua chegada para um show aqui em agosto.
A grande recepção para Henao foi muito comum. Os colombianos o chamam de rei dos "corridos prohibidos", ou baladas proibidas, um gênero musical que descreve as façanhas dos comandantes guerrilheiros, chefes paramilitares, plantadores de coca e barões da cocaína.
Diante da descrição detalhada do tráfico de drogas, algumas estações de rádio da Colômbia mantêm essas canções fora da programação, às vezes temendo represálias violentas que poderiam resultar de se glorificar um lado ou outro nessa guerra que já dura quatro décadas no país.
Estudiosos dizem que as baladas proibidas da Colômbia descendem dos narcocorridos do México, as canções puxadas a acordeão que mitificam os traficantes de drogas mexicanos. Enquanto as baladas das drogas no México existem pelo menos desde os anos 1930, o gênero parece ter-se enraizado na Colômbia há cerca de três décadas, quando grupos mexicanos como Los Tigres del Norte se tornaram populares.
Cerca de 600 bandas tocam corridos na Colômbia. Suas canções ostentam títulos como "Pistas Secretas", "Plantadores de Coca de Putumayo" e "O Alcagueta", refletindo aspectos do persistente tráfico de drogas na Colômbia.
O gênero se desenvolveu em uma espécie de história oral da longa guerra interna da Colômbia entre grupos guerrilheiros, facções militares e forças do governo.
A "Balada dos Castaños" descreve irmãos que chefiaram esquadrões da morte paramilitares excepcionalmente brutais. "Traição na Selva" narra como um desertor da guerrilha matou seu comandante e depois levou a mão amputada do morto para as autoridades.
Os defensores das baladas dizem que elas são um canal da cultura folclórica colombiana para temas que alguns preferem evitar. As canções também servem como um lembrete desconfortável de que a Colômbia ainda disputa com o Peru o título de maior produtor mundial de coca, a planta usada para fabricar cocaína.
Os artistas contam com um amplo público no interior, onde persistem o comércio de cocaína e os exércitos particulares que crescem com ele. A "Balada do Plantador de Coca" de Henao descreve como os pobres agricultores ganham mais dinheiro cultivando coca do que trabalhando como peões.
"O problema não é nosso, o problema vem de lá", cantou Henao em uma apresentação, referindo-se à demanda por cocaína colombiana nos Estados Unidos. "Nós a plantamos, e os gringos a colocam em seus cérebros."
Os shows são a maior receita dos cantores de baladas da Colômbia, pois os CDs piratas com suas canções prejudicam seu faturamento. No caso de Henao, o governo municipal de El Retorno pagou por seu show, mais as despesas dele e da equipe.
Durante a apresentação, mesmo alguns dos soldados que mantêm a paz murmuravam a letra da canção anti-establishment "Eles São Ratos", em que Henao critica os políticos colombianos como "uma maldição" em uma tradição de corrupção que mantém milhões de pessoas na pobreza.
Henao terminou sua apresentação de madrugada. Ele sorria enquanto partilhava com sua equipe uma garrafa de tequila, comemorando a apresentação. "A Colômbia precisa de pessoas como eu, que dizem a verdade sobre o que acontece neste país", disse. "A verdade vende."


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