São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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Nem todos querem poupar

Você ouve falar em poupança, em corte de gastos, em pessoas de olho em cada centavo. Mas há quem esteja de olho numa bota de cano longo ou numa bolsa chique, porque, mesmo em meio à recessão nos EUA, alguns ainda estão indo às compras. Só que furtivamente.
“As pessoas estão dizendo: ‘Estamos naquela época do ano, quero comprar algo, mas me sinto um pouco estranho’”, disse ao “New York Times” Eve Goldberg, revendedora de diamantes em Manhattan. “Muitas vezes me dizem: ‘Não quero sair por aí chamando a atenção com uma sacolona de compras da Harry Winston’.”
A empresa de Goldberg abriu um salão para atender clientes que desejem comprar de forma discreta, e há muitos estabelecimentos desse tipo. Existem “soirées” exclusivas em apartamentos, eventos de compras só para convidados em suítes de hotel e “showrooms” privados. Embora os americanos riquíssimos possam estar reduzindo a ostentação, eles não têm problemas em gastar mais nos seus espaços particulares. Cozinhas do designer britânico de luxo Clive Christian andam populares. Jacqueline Weeman, gerente do “showroom” inaugurado em meados do ano em Nova York, disse que elas geraram um faturamento de US$ 5 milhões nos primeiros meses, segundo o “New York Times”. “Em casa, você pode ser tão ostentatório quanto quiser”, disse ela.
E a casa é o melhor lugar para um consumidor furtivo, porque muitos estão recorrendo à internet. Tatiana Sorokko, que comprou um conjunto da grife Ralph Rucci no site eBay, disse ao “New York Times”: “Nesta economia, as pessoas que conheço estão fazendo ajustes. Suas transações tendem a ser entre elas e o vendedor”.
Lojas de luxo não querem anunciar grandes reduções de preços, então fazem isso por meio de vendas privadas, descontos sussurrados e negociações discretas. Mas que tática seria melhor do que combinar a urgência com um negócio de ocasião? A rede de luxo Neiman Marcus tem “liquidações do meio-dia” para e-mails cadastrados. Essas vendas de duas horas, só on-line, prometem 50% de desconto em produtos de luxo, e os clientes só ficam sabendo horas antes de começar.
A combinação de exclusividade e sigilo pode ser a mais nova estratégia do varejo. A marca alemã VonRosen convida os clientes a se candidatarem descrevendo por que gostariam de fazer compras lá. David von Rosen, fundador da grife, disse ao “New York Times” que recebeu 10 mil pedidos desde que lançou o site, há um ano, e só permitiu que 1.500 pessoas tivessem acesso.
Outros sites para vendas privadas —muitos deles só para convidados, e muitos apenas fingindo que são assim—, como Gilt, Rue La La e Ideeli, estão prosperando. Os sites vendem roupas e acessórios de grife com grandes descontos. Alguns divulgam horários específicos para as vendas, e os produtos podem se esgotar em questão de horas.
É um tumulto, on-line e no cérebro, e qualquer culpa pela compra é ofuscada pela descoberta de uma pechincha incrível. E, se há sempre uma pechincha a ser achada, há sempre alguém para comprá-la. “É como heroína”, disse ao “New York Times” Paco Underhill, autor de “Vamos às Compras!: A Ciência do Consumo”. “Quanto mais você consome e em quantos mais jeitos você consome, mais difícil é parar.”
ANITA PATIL


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