São Paulo, segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Índia luta para prosperar em inovação

Kuni Takahashi para o New York Times
Suri Venkatachalam (centro) é o principal executivo da Connexios Life Services, empresa novata que recebeu financiamento de um fundo de capital de risco indiano

Por VIKAS BAJAJ

BANGALORE, Índia — Nos EUA e na Europa, as pessoas temem que seus empregos bem pagos e de alta capacitação sejam, em uma palavra, “bangalorizados” —ou seja, enviados à Índia.
Na Índia, as pessoas também se preocupam com o futuro. Elas temem que Bangalore, e o país de modo geral, continuem sendo um escritório-satélite de baixo custo para o Ocidente em um futuro previsível.
Enquanto o resto do mundo passou a admirar, invejar e temer as empresas terceirizadas e as proezas tecnológicas da Índia, muitos indianos estão decepcionados porque seu país não avançou para um trabalho mais ambicioso e lucrativo do que atender telefones ou fazer softwares. Por que a Índia não produziu um Google ou uma Apple?, eles se perguntam.
A inovação é difícil de medir, mas os acadêmicos que a estudam dizem que a Índia tem potencial para criar produtos avançados, embora ainda não o faça. Os indianos conseguem registrar nos EUA cerca da metade do número de patentes de invenções que pessoas e firmas de Israel e da China.
Os gastos empresariais e do governo em pesquisa e desenvolvimento ficam significativamente abaixo dos de outros países. E os capitalistas de risco financiam muito menos empresas ali do que em outros lugares. “É a mesma ideia: se nasce no vale do Silício vai longe. Se nasce na Índia não vai longe”, disse Nadathur S. Raghavan, fundador da Infosys, uma das empresas tecnológicas indianas de maior sucesso.
Sujai Karampuri é um empresário indiano que lutou contra muitas dessas limitações. Sua empresa, Sloka Telecom, sediada em Bangalore, desenvolveu sistemas de rádio que são mais flexíveis, menores e mais baratos que o equipamento usado hoje pelas companhias telefônicas. Mas ele não conseguiu despertar o interesse de investidores indianos.
“Só tenho condições de testar com um cliente de cada vez, e isso leva três meses para se materializar”, disse Karampuri, que pensou em mudar sua empresa para os EUA. “Você está sempre preocupado com o salário dos funcionários no próximo mês.”
Existem razões históricas para a dificuldade de se abrir uma empresa na Índia. Durante o domínio britânico, os interesses imperiais ditavam a atividade econômica; depois da independência, em 1947, o planejamento central sufocou o empreendedorismo graças a licenças complicadas e da propriedade estatal de empresas e bancos.
“Tínhamos uma economia sem inovação, em que a expansão era desencorajada, criar riqueza era desprezado, não havia concorrência real”, disse Anand G. Mahindra, diretor do grupo empresarial Mahindra & Mahindra.
Os líderes indianos começaram a abraçar o livre mercado na década de 1980 e a acelerar o ritmo das reformas em 1991, quando o país enfrentou uma crise financeira. Mas o governo ainda exerce um controle significativo, especialmente das indústrias manufatureiras, segundo Rishikesha T. Krishnan, professor do Instituto Indiano de Administração, em Bangalore, e autor de um livro sobre o desafio indiano em relação à inovação sistemática, a ser lançado em 2010. “Para abrir uma empresa de serviços você realmente só precisa de dois ou três dias”, disse Krishnan. Mas, para uma fábrica, “há centenas de inspetores e regulamentos”.
Os fundos de investimento afluíram à Índia nos últimos anos, mas há maior probabilidade de se interessarem por empresas estabelecidas do que por novatas. “Se você quiser levantar US$ 3 milhões a 4 milhões, é possível”, disse Sumir Chadha, um dos diretores das operações indianas da Sequoia Capital. “Mas é difícil se você quiser levantar US$ 300 mil ou 400 mil”, um investimento típico na fase inicial de uma empresa.


País da terceirização tenta apostar em empreendedorismo

Alguns procuram preencher o vácuo de fundos de investimentos. N. R. Narayana Murthy, presidente da Infosys, recentemente vendeu US$ 38 milhões em ações de sua empresa para começar um novo fundo de investimentos. Raghavan, ex-executivo da Infosys, investiu cerca de US$ 100 milhões em novas empresas como a Connexios Life Sciences, que está desenvolvendo medicamentos.
Outra mudança poderá ajudar. Até o início da década, o mercado indiano era muito pequeno para que fosse lucrativo desenvolver produtos ali, por isso a maioria das companhias de tecnologia se concentrava em vender serviços ao Ocidente, disse Girish S. Paranjpe, executivo-chefe da empresa de informática Wipro. “Isso vai mudar drasticamente, porque o mercado indiano cresceu”, disse.


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