São Paulo, segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENSAIO

O dilema do resfriado: quando deixar a criança em casa?


Para evitar o contágio, melhor do que faltar à escola é lavar as mãos

PERRI KLASS, MÉDICO

Em certos momentos, sinto que passei grande parte da minha vida profissional deixando meus próprios filhos doentes na escola (ou na creche) para ir correndo examinar crianças que estavam notavelmente menos doentes, mas que tinham sido mantidas em casa pelos pais e em seguida levadas ao consultório médico.
Estou falando do resfriado comum, do nariz escorrendo e das tosses que marcam a passagem dos nossos filhos por uma variedade de vírus respiratórios -ou talvez marquem a passagem dos vírus pelos nossos filhos.
É válido se perguntar, diante de qualquer criança no limiar da doença, se ela está contagiosa, qual é o risco e o que fazer para reduzi-lo.
Os médicos em geral são partidários de mandar as crianças à escola. Todo médico com o qual conversei se preocupa mais com a perda desnecessária de aulas do que com o risco de contágio aos colegas.
Um problema é que há muitos vírus diferentes.
Caroline Breese Hall, professora de pediatria da Universidade de Rochester (Nova York), tem um especial interesse na transmissão dos vírus. Ela disse que crianças com infecções virais podem estar contagiosas antes de apresentarem sintomas. Por outro lado, algumas crianças podem passar semanas tossindo, não porque ainda haja partículas virais, mas porque o vírus afetou o revestimento dos seus pulmões.
Assim, é possível que uma criança sem sintomas esteja espalhando vírus, e que uma criança com tosse não esteja mais. Além disso, há a infecção pelas partículas virais que espreitam nas superfícies e objetos.
"Não é prático manter afastados todos os que estejam espalhando vírus -seria todo o mundo durante o inverno inteiro", disse Robert Tolan, chefe da divisão de alergias, imunologia e doenças infecciosas do Hospital Infantil da Universidade St. Peter, em New Brunswick, Nova Jersey.
Como então podemos reduzir o contágio? "A única coisa que podemos dizer que funciona realmente bem no controle de infecções é lavar as mãos", disse Hall. "Mesmo para esses vírus que são difundidos por aerossol [por via aérea]."
O que anima os especialistas é a possibilidade de adotar medidas de controle de infecção nas escolas: lavar as mãos, mas também instalar saboneteiras e torneiras automáticas, além de portas de banheiro que se abrem à aproximação da pessoa.
É precisamente esse tipo de medidas para o controle de infecções que nós, o pessoal clínico, usamos em nosso trabalho -e que seria muito útil para evitar que crianças em idade escolar adoeçam.


Texto Anterior: Ensaio: Pelo bem da evolução, o fim do darwinismo
Próximo Texto: Nossa forma de comer
Prosecco se expande e estimula disputas

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.