São Paulo, segunda-feira, 23 de novembro de 2009

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Recompensas em ações dão lucro a banqueiros


Modelo cresceu com a recuperação do mercado financeiro


Por LOUISE STORY
Enquanto Washington tenta conter as remunerações em Wall Street, os banqueiros provavelmente terão ganhos enormes sobre as concessões de ações e opções que receberam depois que o valor de suas empresas caiu acentuadamente durante a crise financeira.
Os bancos cortaram os bônus no ano passado e trocaram mais honorários por ações e opções em vez de dinheiro, prática que legisladores dos EUA apoiaram porque enfatiza o desempenho em longo prazo. Em poucos meses, o sistema financeiro começou a se corrigir -em parte com os bilhões de dólares em ajuda do governo dos EUA-, e aquelas ações começaram a valorizar. Algumas delas poderão ser vendidas em apenas alguns meses.
E, assim, os bônus que Wall Street recebeu em 2008, considerados insignificantes, estão se transformando em alguns dos dividendos mais lucrativos de todos os tempos.
Os bancos lançaram a tendência ao pagar mais em ações no ano passado. Depois, em fevereiro, o Congresso americano exigiu que os bônus de bancos socorridos fossem pagos totalmente em ações. No mês passado, o Departamento do Tesouro propôs que os salários de alguns executivos fossem pagos em ações. O resultado é que os trabalhadores de Wall Street têm mais pagamentos sujeitos a risco.
Ainda assim, alguns especialistas dizem que o risco diminui devido ao apoio do governo ao sistema financeiro e os preços historicamente baixos das ações. Afinal, eles indicam, empresas como JPMorgan, American Express e Capital One emitiram ações e opções no ano passado, quando os preços de suas ações tinham pouca probabilidade de ir para algum lugar a não ser para cima.
O Goldman Sachs, por exemplo, cortou quase todos os bônus, mas deu a alguns executivos mais opções que de costume. Seu advogado-geral, por exemplo, levou 104.868 opções de ações e 14.117 ações em dezembro, quando a ação do banco estava em US$ 78.
Agora, as ações mais que duplicaram de valor, fazendo essas ações e opções valerem quase US$ 12 milhões, segundo a Equilar, empresa de pesquisa de remuneração de executivos na Califórnia.
Aquele executivo é apenas um dos muitos trabalhadores de Wall Street que viram seus bônus valorizarem. O "pool" de bônus do Goldman no ano passado foi de US$ 4,82 bilhões, segundo a Secretaria de Justiça de Nova York, mas, como cerca da metade deles foi paga em ações, hoje vale mais de US$ 7,8 bilhões. No JPMorgan, os funcionários viram o valor das ações que receberam no ano passado aumentar pelo menos US$ 3 bilhões.
"As pessoas têm de ver os ganhos consideráveis feitos desde que as ações e as opções foram concedidas no ano passado, e o fato é que isto foi, de muitas maneiras, uma consequência", disse Jesse Brill, presidente da publicação setorial CompensationStandards.com.
Wall Street há muito tempo usa a combinação de ações e dinheiro para os bônus. Mas a maior ênfase para o dinheiro, antes da crise financeira, fez que os executivos pudessem sair ricos, mesmo quando suas empresas desmoronaram.
Isso levou muitos em Wall Street -e em Washington- a exigir que uma parte maior do pagamento fosse feita em ações, na esperança de recompensar mais o desempenho em longo prazo do que as apostas em curto prazo. O chefe de pagamentos especial do Tesouro dos EUA, Kenneth Feinberg, disse que há "dependência demais do dinheiro" em Wall Street e propôs as ações como alternativa.
As teorias normais sobre honorários e aceitação de riscos podem não ser válidas hoje, dizem especialistas, em grande parte por causa do constante apoio financeiro do governo ao setor. E eles dizem que o lado positivo de muitos bancos é bem maior que o negativo, especialmente no caso de Bank of America e Citigroup, cujas ações ainda não se recuperaram.
"A ação não me incomoda. O que me incomoda são as grandes quantias", disse Charles M. Elson, professor de governança corporativa na Universidade de Delaware. "A maioria das pessoas está concentrada nos pagamentos em dinheiro e ignora as ações. Quando você emite ações em um período de distúrbio econômico, muitas vezes dá um presente para alguém."
Muitos trabalhadores do mercado financeiro, é claro, não consideram seus honorários um presente, apesar das críticas sobre seu altos pagamentos. E especialistas em remuneração citam os prejuízos em ações em Wall Street nos últimos anos. Ira T. Kay, diretor de remuneração da consultoria Watson Wyatt, disse: "Ninguém está querendo ser simpático com eles, mas não é correto dizer que não sentiram a dor de seus acionistas".


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