São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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Longe de Wall Street, novos titãs das finanças influenciam as Bolsas

Para críticos, investidores comuns podem estar em desvantagem

Por JULIE CRESWELL

RED BANK, Nova Jersey - Uma gigante de Wall Street se esconde em Red Bank, cidade a cerca de 120 km de Manhattan.
Dentro do escritório de uma corretora de ações minúscula chamada Tradeworx, corretores na casa dos 20 e 30 anos trabalham diante de computadores de alta velocidade que costumam comprar e vender 80 milhões de ações por dia.
Mas, no último dia 6, quando o mercado começou a mergulhar no "flash crash", ou crash instantâneo e imprevisto, alguém na Tradeworx foi a um desses computadores e digitou o comando HF STOP: vender tudo e fechar.
Do outro lado dos EUA, várias empresas semelhantes fizeram o mesmo. Em um piscar de olhos, alguns dos atores mais poderosos do mercado acionário de hoje, os chamados "high-frequency traders" (negociadores em alta freqüência), pararam de trabalhar. O resultado enviou calafrios por todo o mundo financeiro.
Após o mergulho de mil pontos do mercado acionário naquele dia, o papel crescente dos high-frequency traders nos mercados financeiros dos EUA tem atraído novo escrutínio.
Esses operadores "high-tech" viraram uma espécie de Wall Street nas sombras.
Dependendo das estimativas em que se quiser acreditar, eles são responsáveis por entre 40% e 70% de todas as transações em todas as Bolsas dos EUA. Alguns negociam mais de 1 bilhão de ações por dia.
São apostas de prazo curto -muito curto. O fundador da Tradebot, em Missouri, disse a estudantes em 2008 que sua firma costuma ficar com ações em mãos por 11 segundos, em média. Disse ainda que a Tradebot, uma das maiores empresas de transações em alta frequência, não tinha tido um dia sequer de perdas em quatro anos.
Mas algumas pessoas em Washington se perguntam se investidores comuns vão pagar um preço por esse tipo de negociação relâmpago de ações. Diferentemente dos especialistas à moda antiga na Bolsa de Nova York, que são obrigados a continuar no mercado, quer ele esteja em alta ou em baixa, os high-frequency traders podem afastar-se a qualquer momento.
Os reguladores ainda tentam entender o que aconteceu no dia 6, e a decisão dos high-frequency traders de deixar o mercado está sendo estudada.
O senador democrata Edward Kaufman, do Delaware, quer que a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA reúna mais informações sobre os high-frequency traders.
"Sempre que se tem muito dinheiro, muitas mudanças, pouca ou nenhuma transparência e, portanto, nenhuma regulamentação, há potencial para um desastre no mercado", disse.
Alguns corretores são a favor de mais escrutínio. "Não somos contra a regulamentação", disse Richard Gorelick, cofundador da empresa de transações em alta frequência RGM Advisors. "Nossas empresas foram criadas por uma boa regulamentação, aquela que garantiu mais concorrência, transparência e justiça."
Mas críticos alegam que os mercados se tornaram injustos para com investidores sem condições de investir milhões em computadores "high-tech". As Bolsas oferecem incentivos, incluindo descontos, que podem somar-se para render lucros também aos corretores que negociam com altos volumes.
"A estrutura do mercado passou de uma que era equitativa e justa para uma em que aqueles que possuem agilidade têm todas as vantagens", disse Sal Arnuk, que comanda uma empresa de negociações de participações acionárias.
Os high-frequency traders insistem em que fornecem liquidez ao mercado. "Os benefícios dessa liquidez não são teóricos", disse Cameron Smith, advogado da empresa de high-frequency trading Quantlab Financial. "Se você pode comprar um título de crédito ciente de que poderá revendê-lo mais tarde, isso gera muita confiança no mercado."
O clube high-frequency tem entre cem e 200 firmas geograficamente dispersas longe de Wall Street. A maioria usa o dinheiro de seus fundadores para negociar.
Algumas funcionam em quartos, enquanto outras têm centenas de funcionários.
A maioria dessas firmas geralmente fica com ações em mãos por alguns segundos, minutos ou horas e geralmente chega ao fim de cada dia com pouca ou nenhuma posição no mercado. Seus lucros chegam em frações de centavos, mas elas podem receber esses lucros incrementais repetidas vezes, o dia inteiro.
Esses traders gostam de volatilidade -e muita. "Em 2008, qualquer imbecil que tentasse montar uma estratégia de high-frequency era capaz de ganhar dinheiro", disse Manoj Narang, fundador da Tradeworx.
Se os high-frequency traders querem volatilidade, por que a Tradeworx e outras desligaram seus computadores no dia 6?
Narang disse que não tinha como saber se algo estava errado nos fluxos de dados que chegavam das Bolsas. E ele receou que, se algumas negociações fossem canceladas -como, de fato, ocorreu-, a Tradeworx pudesse ficar com ações indesejadas nas mãos. Agora ele vê a situação sob outra ótica. "Várias firmas de high-frequency trading que conheço continuaram no mercado naquele dia e acabaram tendo o melhor dia do ano", explicou.


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