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Longe de Wall Street, novos titãs das finanças influenciam as Bolsas
Para críticos, investidores comuns podem estar em desvantagem
Por JULIE CRESWELL
RED BANK, Nova Jersey - Uma gigante de Wall Street se esconde em Red Bank,
cidade a cerca de 120 km de Manhattan.
Dentro do escritório de uma corretora de ações minúscula chamada Tradeworx,
corretores na casa dos 20 e 30 anos trabalham diante de computadores de alta
velocidade que costumam comprar e vender 80 milhões de ações por dia.
Mas, no último dia 6, quando o mercado começou a mergulhar no "flash crash", ou
crash instantâneo e imprevisto, alguém na Tradeworx foi a um desses computadores
e digitou o comando HF STOP: vender tudo e fechar.
Do outro lado dos EUA, várias empresas semelhantes fizeram o mesmo. Em um piscar
de olhos, alguns dos atores mais poderosos do mercado acionário de hoje, os
chamados "high-frequency traders" (negociadores em alta freqüência), pararam de
trabalhar. O resultado enviou calafrios por todo o mundo financeiro.
Após o mergulho de mil pontos do mercado acionário naquele dia, o papel
crescente dos high-frequency traders nos mercados financeiros dos EUA tem
atraído novo escrutínio.
Esses operadores "high-tech" viraram uma espécie de Wall Street nas sombras.
Dependendo das estimativas em que se quiser acreditar, eles são responsáveis por
entre 40% e 70% de todas as transações em todas as Bolsas dos EUA. Alguns
negociam mais de 1 bilhão de ações por dia.
São apostas de prazo curto -muito curto. O fundador da Tradebot, em Missouri,
disse a estudantes em 2008 que sua firma costuma ficar com ações em mãos por 11
segundos, em média. Disse ainda que a Tradebot, uma das maiores empresas de
transações em alta frequência, não tinha tido um dia sequer de perdas em quatro
anos.
Mas algumas pessoas em Washington se perguntam se investidores comuns vão pagar
um preço por esse tipo de negociação relâmpago de ações. Diferentemente dos
especialistas à moda antiga na Bolsa de Nova York, que são obrigados a continuar
no mercado, quer ele esteja em alta ou em baixa, os high-frequency traders podem
afastar-se a qualquer momento.
Os reguladores ainda tentam entender o que aconteceu no dia 6, e a decisão dos
high-frequency traders de deixar o mercado está sendo estudada.
O senador democrata Edward Kaufman, do Delaware, quer que a Comissão de Valores
Mobiliários dos EUA reúna mais informações sobre os high-frequency traders.
"Sempre que se tem muito dinheiro, muitas mudanças, pouca ou nenhuma
transparência e, portanto, nenhuma regulamentação, há potencial para um desastre
no mercado", disse.
Alguns corretores são a favor de mais escrutínio. "Não somos contra a
regulamentação", disse Richard Gorelick, cofundador da empresa de transações em
alta frequência RGM Advisors. "Nossas empresas foram criadas por uma boa
regulamentação, aquela que garantiu mais concorrência, transparência e justiça."
Mas críticos alegam que os mercados se tornaram injustos para com investidores
sem condições de investir milhões em computadores "high-tech". As Bolsas
oferecem incentivos, incluindo descontos, que podem somar-se para render lucros
também aos corretores que negociam com altos volumes.
"A estrutura do mercado passou de uma que era equitativa e justa para uma em que
aqueles que possuem agilidade têm todas as vantagens", disse Sal Arnuk, que
comanda uma empresa de negociações de participações acionárias.
Os high-frequency traders insistem em que fornecem liquidez ao mercado. "Os
benefícios dessa liquidez não são teóricos", disse Cameron Smith, advogado da
empresa de high-frequency trading Quantlab Financial. "Se você pode comprar um
título de crédito ciente de que poderá revendê-lo mais tarde, isso gera muita
confiança no mercado."
O clube high-frequency tem entre cem e 200 firmas geograficamente dispersas
longe de Wall Street. A maioria usa o dinheiro de seus fundadores para negociar.
Algumas funcionam em quartos, enquanto outras têm centenas de funcionários.
A maioria dessas firmas geralmente fica com ações em mãos por alguns segundos,
minutos ou horas e geralmente chega ao fim de cada dia com pouca ou nenhuma
posição no mercado. Seus lucros chegam em frações de centavos, mas elas podem
receber esses lucros incrementais repetidas vezes, o dia inteiro.
Esses traders gostam de volatilidade -e muita. "Em 2008, qualquer imbecil que
tentasse montar uma estratégia de high-frequency era capaz de ganhar dinheiro",
disse Manoj Narang, fundador da Tradeworx.
Se os high-frequency traders querem volatilidade, por que a Tradeworx e outras
desligaram seus computadores no dia 6?
Narang disse que não tinha como saber se algo estava errado nos fluxos de dados
que chegavam das Bolsas. E ele receou que, se algumas negociações fossem
canceladas -como, de fato, ocorreu-, a Tradeworx pudesse ficar com ações
indesejadas nas mãos. Agora ele vê a situação sob outra ótica. "Várias firmas de
high-frequency trading que conheço continuaram no mercado naquele dia e acabaram
tendo o melhor dia do ano", explicou.
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