São Paulo, segunda-feira, 24 de maio de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Velhos talentos perdem relevância no mercado

Montadores de carros e arquivistas podem estar para sempre excluídos

Por CATHERINE RAMPELL

JACKSONVILLE, Flórida - Muitos dos empregos que foram perdidos nos EUA durante a recessão não voltarão.
Nos últimos dois anos, a economia fraca deu a empregadores a oportunidade de fazer o que teriam feito de qualquer forma: demitir milhões de pessoas -como arquivistas, agentes de viagens e montadores de automóveis- que foram superadas pelos progressos tecnológicos e o comércio internacional.
O desaparecimento desses cargos poderia ter sido efetuado por meios menos dolorosos, como aposentadorias, aquisições ou demissões voluntárias.
Mas, por causa da recessão, o inverno chegou cedo.
Esse ambiente foi especialmente desanimador para pessoas mais velhas e experientes como Cynthia Norton, 52, assistente administrativa desempregada. "Eu sei que sou boa nisso", diz Norton. "Então por que acabei aqui?"
O trabalho administrativo sempre foi sua "vocação" desde que ela começou a trabalhar como secretária para sua tia, aos 16 anos. Nas décadas seguintes ela arquivou, datilografou e atendeu telefones para praticamente todos os ramos de negócios.
Mas, desde que foi demitida de uma companhia de seguros, há dois anos, ninguém parece precisar de seu know-how de escritório.
Norton é 1 dos 1,7 milhão de americanos que estavam empregados em cargos de escritório e administrativos quando a recessão começou, mas que já não trabalhavam mais nessa ocupação no fim do ano passado.
Também houve grande perda de empregos em outras categorias que parecem ter pequena probabilidade de reviver durante a recuperação econômica. O número de operadores de impressão, por exemplo, foi reduzido quase pela metade entre o quarto trimestre de 2007 e o de 2009. O número de pessoas empregadas como agentes de viagens caiu 40%.
Mas essa "destruição criativa" no mercado de trabalho pode beneficiar a economia dos EUA.
Podar funcionários relativamente menos eficientes como atendentes e agentes de viagem, cujo trabalho pode ser feito por menor custo por computadores ou funcionários no exterior, torna as empresas americanas mais eficientes. O crescimento da produtividade atingiu seu nível mais alto em mais de 50 anos no último trimestre, elevando os lucros corporativos e ajudando a economia a crescer.
Mas um enorme grupo de pessoas foi deixado de fora da festa.
Milhões de trabalhadores que já estão desempregados há meses ou anos provavelmente continuarão assim, mesmo com a recuperação econômica, dizem os especialistas. Suas ocupações e habilidades nunca voltarão à moda.
E a demanda por novos tipos de capacidades se move muito mais rapidamente do que os trabalhadores -especialmente os mais velhos e menos flexíveis- são capazes de se reciclar e adquirir essas capacidades.
Não há uma solução política fácil para ajudar essas pessoas. As medidas habituais -como benefícios para desempregados e cupons de alimentos- podem servir como paliativos temporários, mas não tornam as capacidades dos trabalhadores relevantes novamente.
O discernimento humano ainda vale alguma coisa. Isso significa que alguns dos empregos de secretariado, assim como na indústria manufatureira, cortados durante a recessão retornarão. Mas muitos deles provavelmente não. No mínimo, as novas secretárias provavelmente serão mais jovens, com habilidades diferentes.
"Isso sempre acontece nas recessões", diz John Schmitt, economista do Centro para Pesquisa Econômica e Política. "Os empregadores as veem como uma oportunidade para limpar a casa e preparar-se para a próxima grande mudança no mercado."
Mas a reestruturação poderá cobrar um preço maior desta vez. A porcentagem de trabalhadores desempregados que foram demitidos permanentemente está em um nível recorde de mais de 50% há vários meses.
Além disso, os números do desemprego mostram uma divisão notável na oferta de trabalho: a maioria dos trabalhadores desempregados encontrou trabalho depois de um período de tempo relativamente curto, mas uma parcela considerável da força de trabalho é incapaz de encontrar novos empregos mesmo depois de meses ou anos de procura.
Assim como há um declínio estrutural em alguns setores, outros desfrutam um crescimento estrutural (a parte "criativa" da "destruição criativa"). O segredo é preparar o grupo de trabalhadores que ficou para trás para a indústria que está em crescimento.
Thomas Anton Kochan, professor de administração no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), disse: "Você pode recuperar os empregos para alguns, mas eles não estarão no mesmo lugar".


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