São Paulo, segunda-feira, 24 de agosto de 2009

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Tecnologias passam a governar rotina matinal

Por BRAD STONE

Karl e Dorsey Gude, de East Lansing, Michigan, nos EUA, se lembram de manhãs mais simples no século passado. Eles se sentavam juntos e conversavam durante o café da manhã. Liam o jornal e competiam só com a TV pela atenção de seus dois filhos adolescentes.
Hoje, Karl acorda por volta de 6h para checar seu e-mail do trabalho e suas contas de Facebook e Twitter. Os dois meninos, Cole e Erik, começam cada manhã com mensagens de texto, videogames e o Facebook.
A nova rotina rapidamente se tornou uma fonte de conflito na família, com Dorsey se queixando de que a tecnologia estava corroendo o tempo familiar. Mas ela própria acabou sucumbindo parcialmente, abrindo seu laptop depois do café.
“Coisas que eu achava inaceitáveis há poucos anos agora são um lugar-comum na minha casa, como nós quatro começando o dia sobre quatro computadores em quatro cômodos separados”, disse ela.
A tecnologia chacoalhou muitas rotinas da vida, e para muita gente ela alterou completamente rituais outrora previsíveis no começo de cada dia.
Assim é a manhã nos EUA na era da internet: após 6 a 8 horas de privação da rede —período também conhecido como sono—, as pessoas estão cada vez mais levantando e avançando para os celulares e laptops, às vezes antes mesmo de resolverem atividades biologicamente mais urgentes.
“Costumava ser assim: você se levantava, ia ao banheiro, talvez escovava os dentes e apanhava o jornal”, disse Naomi Baron, professora de linguística da Universidade Americana, em Washington, que escreveu sobre o avanço da tecnologia no cotidiano. “Mas o que priorizamos agora mudou dramaticamente. Serei a primeira a admitir: a primeira coisa que eu faço é checar meu e-mail.”
Os filhos do casal Gude dormem com seus celulares ao lado das camas, de modo a substituir o despertador por mensagens de texto enviadas pelo pai. “Usamos a mensagem de texto como um interfone doméstico”, disse ele. “Eu poderia simplesmente subir as escadas, mas eles quase sempre respondem as mensagens.”
As manhãs durante a semana tradicionalmente são momentos frenéticos, confusos. Agora, famílias que costumavam brigar pelo chuveiro ou pelo jornal disputam o acesso ao único computador da casa. As empresas de internet, antes habituadas a verificar um aumento no tráfego digital só quando as pessoas punham os pés no trabalho, agora veem esse despontar muito mais cedo.
A Arbor Networks, empresa de Boston que analisa o uso da internet, diz que o tráfego da web nos EUA declina gradualmente entre 0h e cerca de 6h na Costa Leste, e então recebe uma violenta injeção matinal de cafeína. “É um foguete que decola às 7h”, disse Craig Labovitz, cientista-chefe da Arbor.
Tanto adultos quanto crianças têm boas razões para se levantar e se conectar. Papai e mamãe podem precisar apanhar e-mails de colegas em diferentes fusos horários. As crianças checam mensagens de texto e posts do Facebook de amigos.
Algumas famílias tentam impor limites. James Steyer, fundador da Common Sense Media, entidade não lucrativa que trata das relações entre crianças e entretenimento, se levanta toda manhã às 6h e passa a hora seguinte no seu BlackBerry, administrando e-mails de contatos em diferentes partes do mundo.
Mas, quando encontra sua esposa, Liz, e seus quatro filhos, de 5 a 16 anos, na mesa do café da manhã, nenhum laptop é permitido. “É preciso resistir ao impulso e passar do modo trabalho para o modo paternidade”, disse Steyer. “Mas é duro seguir o meu próprio padrão.”


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