São Paulo, segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

O lado positivo da recessão

Desaceleração econômica global, arrocho do crédito, desemprego em alta, mercados em queda: "É um momento maravilhoso", disse o reverendo A.R. Bernard.
Bernard, pastor sênior do Centro Cultural Cristão no Brooklyn, Nova York, explicou ao "New York Times" que economias em fase negativa podem ser positivas para igrejas. Descrevendo a turbulência atual como "grande oportunidade evangelista para nós", ele disse que as congregações crescem em tempos de ansiedade. "Quando as pessoas se sentem abaladas até o âmago, isso pode abrir portas", explicou.
Os pastores não são os únicos a enxergar oportunidades -espirituais ou não- em meio ao sofrimento.
Na França, por exemplo, alguns intelectuais destacados estão saudando a recessão no setor de artigos de luxo do país, que, para eles, perverteu os valores da cultura nacional. "Eles representam o desperdício, o superficial, a desigualdade de riqueza", disse a Elaine Sciolino, do "New York Times", o sociólogo Gilles Lipovetsky, que já escreveu vários livros sobre o consumismo. Muitas pessoas, observou Sciolino, hoje enxergam "o potencial de retorno das virtudes francesas clássicas da contenção e da modéstia".
De modo semelhante, Michael Cannell escreveu no "New York Times" um obituário do mundo inflado do design dos últimos anos, com suas festas suntuosas e cadeiras da Campana Brothers vendidas por quase US$ 9.000. Na esteira dele, pode emergir uma ênfase mais utilitária na idéia de atender às necessidades das massas, como aconteceu na década de 1930.
"Os designers americanos enxergaram a Grande Depressão como um chamado às armas", disse a Cannell a escritora e historiadora da arte Kristina Wilson. "Era uma oportunidade de cumprir a promessa modernista de criar designs mais inteligentes, de preços acessíveis, voltados a um público grande."
E, se uma recessão pode ser boa para o design, pode ser melhor ainda para o Departamento da Defesa dos EUA. O mercado de trabalho anêmico teve o efeito de repentinamente fazer a carreira militar parecer atraente outra vez. No ano passado, todas as forças militares da ativa e da reserva alcançaram ou superaram suas metas de recrutamento, pela primeira vez desde 2004.
Mas talvez ninguém esteja curtindo a depressão econômica tanto quanto os skatistas da Califórnia. Com a interrupção na construção residencial e o aumento das execuções de hipotecas de casas em todo o Estado, os skatistas têm encontrado uma abundância de piscinas abandonadas que, quando esvaziadas, formam arenas perfeitas para o skate.
Skatistas estão indo em massa para o Estado, vindos de lugares tão distantes quanto Austrália e Alemanha. E eles sabem a quem agradecer. Num post na internet fazendo referência ao ex-presidente do Fed (Banco Central dos EUA), a cujas políticas alguns atribuem a bolha imobiliária residencial, um skatista escreveu: "Deus abençoe [Alan] Greenspan, santo padroeiro do skate em piscinas".
Pode não ser o legado que Greenspan desejasse. Mas, hoje em dia, talvez ele se contente com isso.

Envie comentários para nytweekly@nytimes.com

Texto Anterior: Um mundo de desafios
Próximo Texto: O salvador ou o demônio
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.