São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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CARTAS AO INTERNATIONAL WEEKLY

Uma nova voz para a Europa
(coluna Inteligência, de Roger Cohen, 19.out.2009)
O fato de a coluna Inteligência da edição semanal internacional do "New York Times" ter proposto que Tony Blair seja o primeiro presidente da União Europeia aborreceu muitos europeus genuínos. A maioria dos europeus tem orgulho em fazer parte da UE, entidade econômica que não tem interesse em exercer poder marcial no mundo. Tony Blair prejudicou a imagem da Europa no mundo ao apoiar a guerra ilegítima do Iraque, movido por ideologia e pela soberba daqueles que se veem como "escolhidos" para governar o mundo. Isso o torna inapropriado para ocupar o cargo altamente simbólico de primeiro presidente da UE. Sua agenda, focada na chamada integração euro-atlântica, implica em mais subordinação da UE aos objetivos geopolíticos e interesses estratégicos americanos, o primeiro dos quais é o atoleiro afegão. Sua nomeação acrescentaria insulto à injúria. François Ettori
Paris

Li com interesse seus comentários sobre a presidência da União Europeia na coluna Inteligência publicada no "Le Monde". O sr. parte da premissa de que:
1. Todo o mundo na Europa está satisfeito com a perspectiva de nomear um presidente, o que não é verdade.
2. O sr. presume que o Reino Unido continuará fortemente envolvido, mesmo que David Cameron se torne primeiro-ministro. Nada está mais longe da realidade. O sentimento anti-UE no Reino Unido é tão grande hoje que o premiê britânico se recusa a oferecer um referendo à população. Se o fizesse, 78% da população votaria por deixar a UE por completo ou, pelo menos, conseguir de volta os poderes parlamentares já perdidos.
3. O sr. deseja fazer do desacreditado Blair o presidente da Europa. Acredito com firmeza que ele não será. A resistência no Reino Unido a Blair, visto por muitos da esquerda como criminoso de guerra, é extrema. A direita tampouco vai concordar com sua nomeação.
Não sou antieuropeu -de outro modo, eu não teria optado por viver na França. Contudo, o Reino Unido não é Europa, e os britânicos não são europeus, quer "a Esquerda" reconheça esse fato, quer não.
A prova? Basta perguntar aleatoriamente nas ruas britânicas o que as pessoas sentem ser, e a resposta invariável será "ingleses", "galeses", "escoceses" e, às vezes, "britânicos".
Pergunte a elas se são europeias, e a resposta será ambígua ao extremo: que a Europa "é um lugar simpático onde passar férias". Ou, para ter uma visão ainda mais inequívoca, oponha qualquer time esportivo contra os alemães, ou, às vezes, os franceses, e a linguagem vista nos tabloides lhe dará todas as respostas.
J. Louis C .Sallons
França

Convivendo com a crise
Saúdo o fato de a questão da crise econômica estar pouco a pouco desaparecendo das páginas da edição semanal do "New York Times" publicada no [jornal argentino] "Clarín". Em dado momento nos meses recentes, muitas de suas reportagens eram relacionadas à crise, de uma maneira ou outra.
Vivo na Argentina há 43 anos; passei toda minha vida convivendo com crises econômicas. Contudo, tenho uma vida feliz e realizada. Talvez os americanos devessem tentar entender que a economia não é a única questão importante na vida.
Héctor Horacio Otero
Buenos Aires

A discussão sobre o clima
A discussão pública sobre o clima e os gases-estufa focaliza essa ou aquela porcentagem de redução de emissões -e, ao ignorar os efeitos do crescimento sobre o consumo crescente de recursos, passa ao largo dos pontos importantes.
A explosão populacional descontrolada, que levará o mundo a ter mais de 10 bilhões de habitantes em 2050, levou um grupo de cientistas seniores a indagar-se sobre suas consequências em relação às mudanças climáticas. O aumento do número de pobres leva ao desmatamento e ao uso crescente de carvão barato, que vão derrotar as metas climáticas ambiciosas.
O outro "crescimento" é o das economias nacionais e mundiais. Mais renda corresponde a mais bens e energia consumidos.
A energia dita "verde" topou com problemas recentemente. O Prêmio Nobel Paul Crutzen disse há quase dois anos que o uso maciço de fertilizantes à base de nitrogênio para produzir diesel combustível a partir de colza ou etanol a partir de trigo gera mais gases-estufa do que se poderia poupar com o uso dessas fontes de chamada "energia limpa". Há também emissões de dióxido de carbono da produção e do uso de pesticidas. A chanceler [premiê] da Alemanha, Angela Merkel, continua a ignorar esses fatos e promove esse desenvolvimento adverso com a concessão de subsídios maciços.
Dr. Hans-Hinrich Witt
Alemanha

Cartas de leitores de todo o mundo são ocasionalmente publicadas no suplemento "New York Times". Leitores da Folha podem enviar seus comentários a nytweekly@nytimes.com



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