São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

análise

Rússia vê um modelo no Partido Comunista chinês


A condução da economia feita por Pequim é invejada por Moscou


Por CLIFFORD J. LEVY
MOSCOU - Quase duas décadas depois do colapso do Partido Comunista, os governantes da Rússia encontraram um modelo para o futuro sucesso: o Partido Comunista. Ou pelo menos o que reina no país vizinho.
Como um perdedor invejoso, o partido do premiê Vladimir Putin, Rússia Unida, está cada vez mais analisando maneiras de imitar o Partido Comunista chinês, especialmente sua capacidade em conduzir a China para sair relativamente ilesa da crise global.
Os líderes da Rússia Unida chegaram a marcar uma reunião especial neste mês com autoridades do Partido Comunista chinês para aprender como eles manejam o poder.
Na verdade, os russos não manifestam o desejo de voltar ao comunismo como uma ideologia marxista-leninista de longo alcance, seja a versão soviética ou a muito atenuada de Pequim. O que eles admiram, ao que parece, é a capacidade chinesa de usar o sistema de partido único para manter o controle rígido do país e ao mesmo tempo promover um significativo crescimento econômico.
É uma inversão histórica marcante, já que os comunistas chineses se inspiraram nos soviéticos antes que os dois lados tivessem uma grande ruptura.
Para os russos, o que importa são os caminhos divergentes dos dois países nas últimas décadas. Eles estão muito conscientes de que, enquanto a Rússia sofreu muitos dias sombrios em sua transição para uma economia de mercado, a China parece ter realizado uma mudança bastante semelhante de maneira mais hábil.
Os russos também parecem quase envergonhados pelo fato de sua economia ser altamente dependente de petróleo, gás e outros recursos naturais, como se a Rússia fosse um país do Terceiro Mundo, enquanto a China se supera na fabricação de produtos desejados globalmente.
"As conquistas do Partido Comunista chinês no desenvolvimento de seu governo merecem as notas mais altas", disse Aleksandr D. Zhukov, vice-primeiro-ministro e principal assessor de Putin, na reunião com as autoridades chinesas em 9 de outubro, na cidade fronteiriça de Suifnhe, na China. "A experiência prática que eles têm deve ser estudada intensamente."
O fascínio pelo Partido Comunista Chinês salienta a falta de uma filosofia básica da Rússia Unida. O partido funciona amplamente como uma filial da autoridade de Putin, fazendo campanha com o slogan "O plano de Putin". Ultimamente ele defendeu o "conservadorismo russo", sem explicar exatamente o que é.
Seja qual for o motivo, nos últimos anos a Rússia começou a se aproximar do modelo político e econômico chinês. Depois da queda da União Soviética, em 1991, a Rússia mergulhou no capitalismo de maneira acidental, vendendo muitas indústrias e afrouxando a regulamentação. Com Putin, o governo inverteu o curso, adquirindo maior controle em muitos setores. Hoje os dois países governam com uma autoridade central poderosa.
A corrupção é pior na Rússia do que na China, segundo índices globais, e as companhias estrangeiras geralmente também consideram o clima de investimentos na Rússia menos hospitaleiro, em parte por causa do menor respeito pelos direitos à propriedade.
A crise mundial acentuou as comparações entre as economias, chamando atenção para as políticas de Moscou. Em junho, o Banco Mundial projetou que a economia chinesa cresceria 7,2% em 2009, enquanto a da Rússia encolheria 7,9%.
Os assessores políticos de Putin estudam há muito tempo como aproximar o sistema político do tipo que se enraizou durante muitas décadas em países como Japão e México, com um governo praticamente de partido único sob disfarce democrático, segundo analistas políticos. Os russos tendem a desprezar o fato de que em vários desses países os partidos dominantes havia muito tempo caíram.
Dmitri Kosyrev, comentarista político da agência estatal russa de notícias e autor de novelas policiais ambientadas na Ásia, disse que é muito natural que o Kremlin volte seu olhar para o Oriente.
"Quando eles descobriram que havia uma maneira de reformar um país formalmente socialista em algo muito melhor e mais eficiente, é claro que eles tomaram nota", disse Kosyrev. "Todo o mundo aqui considera a China um modelo, porque a Rússia não é o modelo."

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