São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Leilões voltam atenções às economias emergentes da Ásia

Por BETTINA WASSENER
HONG KONG - Em dezembro, a Christie's irá leiloar o "Rosa Vívido", um diamante de cinco quilates e cor de chiclete avaliado em US$ 5 milhões a US$ 7 milhões. Mas, em vez de marcar sua venda em Nova York ou Genebra, a cidade escolhida foi Hong Kong.
O papel da Ásia no mercado dos produtos de alto luxo está explodindo, refletindo um deslocamento, nos últimos anos, do poder de consumo, intensificado com a crise econômica global.
A Christie's e sua concorrente Sotheby's dizem que, recentemente, Hong Kong se tornou um importante centro para a venda de joias caras, pedras preciosas e vinhos finos. Os asiáticos também se tornaram grandes compradores de produtos de alto luxo nos leilões de Londres, Nova York e Genebra.
O diamante claro Shizuka, de 101 quilates, por exemplo, foi vendido em Hong Kong pela Christie's por US$ 6,2 milhões em maio de 2008. Aquela venda e a do próximo 1? de dezembro do diamante cor-de-rosa "são ótimos exemplos de como este mercado se tornou importante no topo", disse Vickie Sek, chefe de joalheria da Christie's na Ásia.
Em outro exemplo revelador, a Rolls-Royce, que até 2003 nem tinha concessionárias na Ásia, recebeu imediatamente 20 encomendas para o seu novo modelo Ghost, de US$ 250 mil, ao apresentá-lo em setembro em Hong Kong -apesar de os impostos dobrarem o preço do carro.
Em termos mais amplos, os gastos domésticos nos países asiáticos em desenvolvimento devem aumentar, já que o continuado crescimento econômico, a expansão das populações e a melhoria dos serviços públicos de saúde e previdência reduzem a necessidade de poupança das famílias.
Enquanto isso, muitas economias do mundo sofrem para voltar a crescer. A Rússia e o Oriente Médio se ressentem dos preços mais baixos do petróleo. E os consumidores dos Estados Unidos estão endividados e durante bastante tempo devem ser mais cautelosos na hora de abrirem a carteira.
"Os EUA estão nos primeiros estágios de um aperto de vários anos", disse Stephen Roach, presidente das operações asiáticas do Morgan Stanley, num recente discurso em Hong Kong.
O resultado é um gradual reequilíbrio do poder de consumo na direção das nações emergentes da Ásia -e particularmente da China.
A China, país mais populoso do mundo, já se tornou o maior mercado automobilístico global, superando os EUA no começo deste ano. E o Credit Suisse previu, no mês passado, que a participação chinesa no consumo global irá ultrapassar a dos EUA até 2020.
A população de "indivíduos de alto patrimônio líquido" na China -aqueles com patrimônio igual ou superior a US$ 1 milhão- ultrapassou a do Reino Unido no ano passado, segundo um estudo publicado em junho pela Capgemini e a Merrill Lynch.
América do Norte, Japão e Alemanha, juntos, ainda respondem por 54% do total global de milionários, mas os autores do relatório também preveem que a região Ásia-Pacífico irá superar a América do Norte até 2013.
A Ásia já registrou um grande aumento no número de indivíduos que podem gastar muito nos leilões da Christie's e da Sotheby's. No mundo dos vinhos finos, por exemplo, os compradores asiáticos estão no centro do palco. A Christie's disse que, na temporada da primavera boreal, os compradores asiáticos representaram 61% do valor total das vendas em seus leilões de vinhos em Nova York, Londres e Hong Kong. Quatro anos antes, essa cifra era de apenas 7%.
Além disso, seus leilões de vinhos em Hong Kong têm o maior preço médio por lote -quase o triplo de Nova York ou Londres-, porque a Christie's leva para lá só os "vintages" mais raros e caros, segundo David Elswood, diretor internacional de vinhos da Christie's.
A vasta maioria dos compradores asiáticos, disse ele, pretende mesmo beber os vinhos. "Trata-se de prestígio, não de investimento", afirmou. "Não se pode exibir um vinho sem abri-lo e bebê-lo."
Colin Kelly, diretor regional da Rolls-Royce na Ásia-Pacífico, concordou. "As pessoas aqui na Ásia estão mais propensas a ficarem confortáveis em demonstrar sua riqueza."

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