São Paulo, segunda-feira, 26 de outubro de 2009

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Benefício de insulina inalável é contestado

Por ANNE EISENBERG
Diabéticos costumam injetar insulina em si próprios na hora das refeições para controlar o nível de açúcar no sangue. Mas um novo dispositivo que cabe na mão pode permitir a discreta inalação de uma dose de insulina, em vez do uso de uma seringa.
Um pequeno inalador e a insulina em pó, criados pelo laboratório californiano MannKind Corporation, aguardam aprovação da FDA (agência norte-americana de controle de drogas e alimentos) para chegar ao mercado.
A insulina em pó, chamada Afresa, é inalada para os pulmões, onde se dissolve e entra na corrente sanguínea, diz Matthew Pfeffer, diretor financeiro da MannKind.
O uso da insulina e de outras drogas para controlar o açúcar no sangue ajuda os diabéticos a evitarem complicações sérias, como doenças cardíacas, insuficiência renal, cegueira e danos nevrálgicos.
Leonid Poretsky, chefe de endocrinologia do Centro Médico Beth Israel, de Nova York, onde dirige o Instituto de Diabetes Gerald J. Friedman, disse que o sistema da MannKind enfrentará muitos problemas, mesmo se for aprovado.
"As injeções de hoje [com agulhas finas e curtas] são essencialmente indolores", disse ele. "As injeções funcionam tão bem que as vantagens de uma nova rota como esta não estão claras."
Poretsky lembrou que "é possível que as pessoas passem décadas usando insulina". "Toda a questão de expor os pulmões à insulina por um longo período ainda não foi examinada cuidadosamente", disse.
A insulina inalável não é novidade. Foi introduzida pela Pfizer com um produto chamado Exubera, em 2006. Mas o inalador usado com o Exubera era grande e incômodo, argumentaram alguns críticos, o que pode ter sido uma razão para o produto não se popularizar. Ele foi retirado do mercado menos de dois anos depois de receber aprovação federal.
Já a MannKind pode ter perspectivas melhores, porque seu inalador é pequeno, e a insulina age rapidamente. Pfeffer diz que o inalador da MannKind cabe facilmente na palma da mão e que uma segunda geração do produto, que a empresa tem usado em testes clínicos, é ainda menor, do tamanho de um apito. Os pacientes põem as doses de insulina -pré-embaladas em cartuchos- no inalador e viram o bocal para liberar a droga. O inalador não usa eletricidade nem gás comprimido.
"A ação respiratória do paciente faz o trabalho", disse Pfeffer. "O fluxo de ar através do cartucho permite que o pó seja inalado."
O sistema que está sendo examinado pelo FDA é para adultos com diabetes tipo 1, que costuma surgir na infância, e tipo 2, que normalmente ocorre quando o indivíduo já é mais velho.
Simos Simeonidis, analista sênior de biotecnologia do banco de investimentos nova-iorquino Rodman & Renshaw, que escreveu um relatório sobre a MannKind, previu que o sistema deve estar disponível no ano que vem, caso seja aprovado pelo FDA. (Simeonidis não tem ações da MannKind, mas o Rodman & Renshaw já forneceu serviços financeiros para a empresa.)
Gerald Bernstein, endocrinologista de Nova York e ex-presidente da Associação Americana de Diabetes, concordou que o uso prolongado da insulina inalável pode acarretar riscos para alguns pacientes.
Bernstein é vice-presidente da Generex Biotechnology Corporation, que está desenvolvendo uma insulina administrada pela mucosa oral.
"É contraintuitivo usar as frágeis células dos alvéolos [os minúsculos sacos de ar dentro dos pulmões] para levar a insulina para a corrente sanguínea", disse ele. "Os pulmões foram desenvolvidos para transportar gases, não proteínas."
Pfeffer, da MannKind, disse que os dados clínicos da empresa não continham indícios de danos pulmonares.

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