Quem é o dono da ioga? Da maneira como é praticada por milhões, a ioga oferece desde benefícios físicos até recompensas menos palpáveis, como ajudar praticantes espiritualmente. A religião não tem nada a ver com isso.
Mas americanos de origem indiana provocaram debate acirrado ao lançar campanha para colocar os ocidentais em contato com a religião que, segundo o grupo, é subjacente aos estilos de ioga praticados em academias, ashrams (comunidades que buscam a evolução espiritual sob orientação de um mestre) e spas: o hinduísmo.
A campanha "Recuperar a Ioga" não pede aos praticantes da ioga que se tornem hindus -apenas sugere que se conscientizem da dívida que a ioga tem com as tradições antigas dessa religião.
O tema está sendo discutido em fóruns na internet sobre ioga e em jornais e periódicos indiano-americanos voltados aos consumidores desta que se tornou uma indústria de bilhões de dólares.
Em junho, para desencorajar reivindicações de empreendedores da ioga, a Índia começou a fazer cópias digitais de desenhos da antiguidade que mostram a origem de mais de 4.000 posturas.
Os organizadores da campanha "Recuperar a Ioga" destacam que a filosofia da ioga foi descrita pela primeira vez nos textos seminais do hinduísmo, e que ela está na base dos ensinamentos hindus. No entanto, dizem, pelo fato de o hinduísmo ter sido estereotipado no Ocidente como religião de "vacas, castas e curry", muitos preferem enxergar a ioga como sendo o legado de uma "sabedoria indiana" espiritual e mais atemporal.
"De certo modo", disse Aseem Shukla, fundador da Fundação Hinduísta Americana, "nosso problema é que a ioga floresceu e se desenvolveu, mas o hinduísmo perdeu o controle sobre a marca."
Falar em marcas é algo que deixa perplexos praticantes de ioga, entre eles a instrutora de ioga Debbie Desmond, 27, de Nova York.
Como alguns historiadores religiosos, ela acredita que a ioga se originou na cultura védica dos indo-europeus que se fixaram na Índia antes do surgimento do hinduísmo. Outros identificam a primeira descrição escrita da ioga como estando na "Bhagavad Gita", a escritura sagrada hindu, que se acredita que tenha sido escrita entre os séculos V e II a.C.
O esforço para "tomar a ioga de volta" começou com ensaio publicado em janeiro no site da Fundação Hinduísta Americana. O texto lamentava a indiferença que a cultura moderna da ioga demonstra em relação ao hinduísmo.
Alguns meses depois, em um blog no "Washington Post", Aseem Shukla escreveu que o hinduísmo se tornara vítima de "roubo descarado de propriedade intelectual" possibilitado por gerações de professores hindus de ioga que haviam "oferecido a riqueza espiritual de uma religião no altar do comercialismo crasso".
Deepak Chopra, americano de origem indiana que popularizou tradições indianas como a medicina alternativa e a ioga, respondeu que o hinduísmo é "tribal" para reivindicar a ioga como algo seu.
A Fundação Hinduísta Americana emergiu como "o primeiro grupo nacional importante de defesa" das questões relativas aos 2 milhões de hindus dos EUA, disse Diana L. Eck, professora de religião comparativa e estudos indianos na Universidade Harvard.
Shukla comentou que a reação à campanha sobre a ioga superou suas expectativas de longe.
"Quando nossos filhos vão à escola e dizem que são hindus, ninguém responde 'sei, os hindus deram a ioga ao mundo'. As pessoas falam 'qual é sua casta?' ou 'você adora um deus macaco?'. Porque é só isso que os americanos sabem sobre o hinduísmo."
O esforço vem sendo recebido mais favoravelmente por líderes da comunidade indiano-americana como Uma V. Mysorekar, presidente para Nova York da Sociedade do Templo Hindu na América do Norte.
Imigrante que se naturalizou americana, ela disse que o movimento "Recuperar a Ioga" representa um amadurecimento para os indianos nos Estados Unidos. A nova geração de hindus está olhando em volta e encontrando sua voz, dizendo 'nossa civilização fez contribuições ao mundo, e essas contribuições merecem ser reconhecidas'."


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