São Paulo, segunda-feira, 28 de março de 2011

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Autor do fim da história quer explicar sociedade

Por NICHOLAS WADE

O comportamento social humano tem base evolutiva. Essa tese apresentada no livro "Sociobiology", de Edward O. Wilson, causou espécie, apesar de a maioria dos biólogos evolutivos aceitar que pelo menos alguns comportamentos sociais podem ser favorecidos pela seleção natural.
Em um livro ainda inédito, "The Origins of Political Order", Francis Fukuyama, da Universidade Stanford, na Califórnia, apresenta um abrangente apanhado geral das estruturas sociais, partindo de onde terminou a ambiciosa síntese proposta por Wilson.
Fukuyama, que é cientista social, parte da premissa de que a natureza social humana é universal e é construída em torno de comportamentos que evoluíram com o tempo, como o favorecimento de parentes, o altruísmo recíproco, a criação de regras, a obediência a elas e o pendor pela guerra.
Portanto, "a política humana é sujeita a padrões de comportamento que atravessam tempo e culturas", ele escreve. Sua análise abrange desde a pré-história até a Revolução Francesa.
Fukuyama estourou no cenário público em 1989 com seu ensaio "The End of History", cujo título foi mal interpretado por muitos, para os quais significa que não ocorreriam grandes viradas histórias no futuro. Ele disse que seu novo livro é "a cartilha que eu gostaria de ter tido quando comecei na ciência política". Fukuyama o baseou na biologia porque não compartilha o que vê como sendo "a grande hostilidade presente em muitas ciências sociais à ideia de levar em conta informações vindas das ciências naturais".
O primeiro avanço social, a seu ver, foi a transição de bandos de caçadores e coletores para tribos, que foi possibilitada por ideias religiosas que uniram grande número de pessoas na adoração a um ancestral comum. Como uma tribo podia mobilizar homens para a guerra, os bandos vizinhos tiveram que unir-se em tribos, sob pena de serem derrotados.
A guerra motivou a segunda grande transição social, de tribo para Estado. Os Estados são mais estáveis, já que as tribos tendem a dissolver-se em disputas após a morte de um líder. Apenas porque os Estados ofereciam chances de sobrevivência é que as pessoas abriram mão da liberdade da tribo pela coerção do Estado.
Para Fukuyama, a transição para Estados é afetada pela geografia, história e, em especial, pela ordem em que são instalados os elementos que compõem o Estado. Dependendo da ordem dos acontecimentos, Estados muito diferentes emergiram na China, Índia, no mundo islâmico e na Europa. Assim como as tribos são baseadas no instinto arraigado de cuidar de nossos parentes, os Estados dependem da propensão por criar e obedecer a regras sociais.
Fukuyama destaca China porque ela foi o primeiro Estado. A dinastia Qin, fundada em 221 a.C., prevaleceu, pois desenvolveu classe oficial que era leal ao Estado.
O tribalismo durou mais mil anos na Europa, cedendo primeiramente ao feudalismo. Quando surgiam reis, eles raramente adquiriam poder absoluto, porque tinham que compartilhar o poder com os senhores feudais.
Outro empecilho ao governo absolutista, diz Fukuyama, foi o conceito do Estado de direito, em grande medida devido ao desenvolvimento da lei canônica, por parte da igreja, no século 11. Assim, quando governantes fortes começaram a construir Estados, tiveram que levar em conta os códigos emergentes do direito civil.
Uma vez criadas instituições, as pessoas as investem de valor intrínseco, frequentemente com valor religioso. Esse processo, disse Fukuyama, "provavelmente teve um significado evolutivo na estabilização das sociedades humanas". Essa inércia é a razão pela qual as sociedades normalmente levam tanto tempo para mudar.
"A democracia é um acidente esdrúxulo da história", disse Fukuyama. "Foi por um acaso histórico completo que o Parlamento inglês pôde travar uma guerra civil e produzir um acordo constitucional que tornou-se a base da democracia moderna."


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