São Paulo, segunda-feira, 29 de março de 2010

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Equipe prepara salto supersônico

Por JOHN TIERNEY

Normalmente, Felix Baumgartner não precisaria de muito treino na arte de cair.
Ele já saltou de dois dos edifícios mais altos do mundo e do Cristo Redentor, no Rio de Janeiro (um salto de 30 m pelo qual reivindicou o recorde de paraquedismo de baixa altitude). Atravessou o canal da Mancha de paraquedas. Saltou no buraco escuro de uma caverna de 190 m de profundidade. E, até pouco tempo atrás, Baumgartner considerava esse salto o mais difícil de sua carreira.
Mas agora Felix, o Destemido, como o chamam seus fãs, tem algo mais complicado a fazer: saltar de um balão de hélio na estratosfera, pelo menos 36,5 mil metros acima da Terra. Baumgartner calcula que em cerca de meio minuto estará se movimentando a 1.110 km/h, tornando-se o primeiro paraquedista do mundo a quebrar a barreira do som. Após uma queda livre prevista para durar cinco minutos e meio, seu paraquedas deve abrir, deixando-o no solo mais ou menos 37 km abaixo do balão.
Esse, pelo menos, é o plano, mas ninguém sabe exatamente o que a onda de choque poderá fazer com seu corpo no momento em que ele se deslocar a uma velocidade superior à do som. Previsto para algum momento deste ano, o salto deve quebrar um dos recordes aeroespaciais mais veneráveis. Há meio século ninguém supera o recorde de altitude fixado por Joe Kittinger dentro do Projeto Excelsior, programa da Força Aérea dos EUA (uma pessoa morreu tentando).
Kittinger, 81, coronel aposentado que integra a equipe que prepara o salto de Baumgartner, contou: "Há 50 anos tenho recebido telefonemas de todo o mundo de interessados em quebrar meu recorde -uma pessoa por mês, às vezes duas. Mas sempre mantive distância porque elas não tinham a menor ideia do desafio real".
Mais de três dúzias de especialistas trabalham há três anos para planejar o salto, construir o balão e a cápsula pressurizada e adaptar uma roupa de astronauta para Baumgartner. Além do objetivo de fixar novos recordes, eles estão fazendo pesquisas fisiológicas e desenvolvendo procedimentos para que astronautas futuros possam sobreviver a uma perda de pressão da cabine ou uma transferência de emergência na estratosfera.
Uma das principais preocupações é evitar o problema que quase matou Joe Kittinger durante o Projeto Excelsior. A ideia era que ele fosse estabilizado durante sua queda por um pequeno paraquedas de desaceleração, mas, em um salto de treino, em 1959, o paraquedas não abriu porque sua corda enrolou em seu pescoço.
O resultado foi que o corpo de Kittinger começou a girar enquanto ele mergulhava mais de 18 mil metros. Ele desmaiou, recobrando a consciência apenas depois de seu paraquedas de reserva abrir-se automaticamente a mais de 1 km de altitude.
Baumgartner espera se conservar estável e consciente durante sua queda, mais longa, sem depender de um paraquedas de desaceleração. Para evitar girar, ele pretende ajustar o ângulo de seu corpo e conservar os braços encostados ao corpo.
Para sobreviver ao quase vácuo e ao frio extremo da estratosfera, Baumgartner, 41, ex-paraquedista das Forças Especiais australianas, vai precisar de um capacete selado e um uniforme especial pressurizado.
Muitos aviões já romperam a barreira do som, mas o que acontecerá com um humano supersônico é um mistério, disse Art Thompson, diretor técnico de projeto da missão. "Podemos testar muitos modelos, mas, no caso do corpo humano, não estamos lidando com uma superfície dura ou uma forma balística", disse. "Temos esse capacete arredondado, os ombros e os pés se projetando, e tudo começa a acontecer em momentos diferentes. Partes do corpo podem estar supersônicos enquanto outras partes não estão, causando ondas de palpitação que vão percorrer as superfícies em ambas as direções."
Essas ondas podem prejudicar o corpo? "Simplesmente não sabemos o que vai acontecer com Felix e a roupa quando ele entrar em velocidade supersônica", disse outro engenheiro da equipe, Mike Todd. "É possível que Felix passe por tudo isso incólume, mas, se metade do uniforme estiver supersônico e a outra metade não estiver, pode ocorrer turbulência que o deixe fora de controle."


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