São Paulo, segunda-feira, 29 de agosto de 2011

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Em busca do vaso sanitário do século 21

Por ANNE EISENBERG

Os vasos sanitários convencionais arrastam os dejetos humanos para o esgoto de forma rápida e limpa. Mas sua conveniência acarreta preço cada vez mais alto -muitas vezes pago pelos sistemas municipais de tratamento de água e esgotos.
Alguns grupos estão repensando a tecnologia tradicional dos vasos sanitários por descarga, especialmente em regiões nas quais esses sistemas não são muito usados ou nas quais as instalações de tratamento de água estão sobrecarregadas devido à demanda crescente imposta por uma população em rápido crescimento.
A Fundação Bill e Melinda Gates criou um concurso para a reinvenção do vaso sanitário, e ofereceu US$ 3 milhões em verbas a pesquisadores de oito universidades, desafiando-os a criar modelos que não precisem ser ligados a redes de esgoto, de água e de eletricidade, e custem alguns centavos de dólar por usuário em um dia.
"O vaso sanitário atual é um aparelho do século 19, que não atende às necessidades de grande parte da população mundial", disse Frank Rijsberman, executivo da fundação. Em lugar dele, acrescentou, cerca de 2,6 bilhões de pessoas sem acesso a sistemas de descarga conectados a esgotos tem de usar simples latrinas, o que pode levar a muitos problemas de saúde.
Um dos novos vasos funciona com energia solar e utiliza tecnologia eletroquímica embutida para processar os resíduos.
"Podemos limpar a água do vaso em grau equivalente ao que uma usina de tratamento propicia", disse Michael Hoffmann, professor de ciência ambiental do Instituto de Tecnologia da Califórnia, em Pasadena, que recebeu US$ 400 mil para desenvolver o vaso sanitário solar.
O Dr. Rijsberman afirmou que os vasos sanitários do futuro podem ser fruto da engenharia química. Em lugar de compostagem dos resíduos por seis meses, como é o caso de muitos dos vasos sanitários que não usam água, as novas versões aqueceriam os resíduos, matando os patógenos, ele diz.
Um dos projetos financiados que adota essa abordagem é um sistema de eliminação de resíduos em banheiros comunitários da África do Sul, disse Katherine Foxon, da equipe que desenvolve essa tecnologia.
Os pesquisadores estão testando vasos que usam descarga mas desviam a urina antes que ela chegue ao esgoto.
"A maioria dos nutrientes do metabolismo humano é excretada na urina e precisa ser degradada nas usinas de tratamento", disse Tove Larsen, cientista do Instituto Federal Suíço de Ciência e Tecnologia Aquática (Eawag), em Dübendorf.
Lidar com a urina separadamente, direcionando-a a tanques locais de armazenagem, simplifica o processo. A urina pode depois ser recolhida, tratada e reciclada como fertilizante.
Larsen liderou um projeto de seis anos do Eawag para a separação de urina, conhecido como "tecnologia Sem Mistura".
Peter Rogers, professor de engenharia ambiental na Universidade Harvard e pesquisador de recursos de água e energia, aplaudiu a Fundação Gates.
"Vasos sanitários baratos e que possam ser usados por mais de dois bilhões de pessoas pobres são muito necessários", disse, acrescentando que existem soluções potencialmente boas, embora até o momento não se tenham provado economicamente viáveis.


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