São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Abundância de gás natural pode reduzir preços

Por CLIFFORD KRAUSS

HOUSTON - A queda dos preços do petróleo ocupa todas as manchetes, mas a primeira bolha global de gás natural liquefeito na história está provocando um colapso ainda mais drástico no preço do gás para cozinhar, aquecer casas e movimentar fábricas em vários lugares do mundo.
Seis usinas gigantes, capazes de resfriar e liquefazer gás para exportação, deverão entrar em operação neste ano, enquanto as economias dos países asiáticos e europeus, que importam a maior parte do gás para alimentar suas indústrias, estão desacelerando. Especialistas em energia e executivos de empresas dizem que isso significa que toneladas de gás de Qatar, Egito, Nigéria e Argélia que iriam para Japão, Coreia do Sul, Taiwan e Espanha começam a chegar em supertanques aos EUA, apesar de ali também haver gás excedente.
Com o declínio do uso industrial e utilitário do gás natural liquefeito (GNL), os preços do produto nos EUA já caíram dois terços desde meados de 2008. Provavelmente não cairão muito mais, segundo especialistas, mas um aumento das importações deverá mantê-los baixos até que a economia global se recupere, aumentando novamente a demanda.
Executivos do setor acreditam que as importações de GNL pelos Estados Unidos vão pelo menos triplicar no segundo semestre deste ano. "Os EUA costumavam ter bolhas de gás próprias; hoje o mundo pode ter uma bolha de gás", disse Donald Hertzmark, assessor de companhias energéticas em projetos de gás internacionais. "Nos próximos anos, o mercado de gás globalizado exercerá uma influência moderadora nos preços do gás nos Estados Unidos."
Para Hertzmark, a queda dos preços do gás natural significará um importante estímulo para as economias americana e mundial. O GNL está se tornando uma matéria-prima mundial, como o petróleo. Ele ainda está frouxamente ligado aos preços mundiais do petróleo, e seu preço, geralmente definido por contratos de longo prazo em toda parte, exceto nos EUA e no Reino Unido, pode divergir amplamente de um continente para outro. Até alguns anos atrás, o GNL era uma necessidade muito cara para países que não o produziam ou que têm acesso a reservas por meio de gasodutos; mas hoje tornou-se um motor econômico barato para países como o Japão, que tem poucas fontes de energia.
Mas, com a construção de terminais, a quantidade de gás transportada de um continente para outro em navios-tanques gigantes aumentou. E hoje o emergente mercado global de gás está prestes a dar um salto gigantesco. A capacidade global de exportações de GNL, de 180 milhões de toneladas por ano, vai aumentar 25% com a conclusão de seis novas refinarias em Qatar, Rússia, Indonésia e Iêmen, totalizando US$ 48 bilhões de investimentos, e a modernização de uma sétima usina na Malásia. As empresas nacionais de energia nesses países, assistidas por ExxonMobil, Total, BP e Shell, apressaram a construção desses projetos nos últimos anos para satisfazer o apetite crescente de energia ao redor do mundo. Outras grandes usinas deverão entrar em operação em 2010 e 2011.
"Tivemos muitos anos de demanda crescente, por isso o mundo se preparou, mas não previmos uma recessão econômica de âmbito e impacto globais", disse Darcel L. Hulse, presidente e executivo-chefe da Sempra LNG, divisão da Sempra Energy que opera um terminal de importação no México e está terminando a construção de uma instalação no Estado americano da Louisiana. "Foi isso que exacerbou o desequilíbrio de oferta e demanda em tal excesso."
Alguns analistas dizem que as empresas poderão desacelerar a conclusão de algumas obras de novos terminais. "As companhias vão querer colocá-los em operação porque querem recuperar seus investimentos feitos quatro ou cinco anos atrás e pagar seus empréstimos", disse Nikos Tsafos, analista da PFC Energy, que assessora governos e companhias energéticas.
O excedente internacional de gás natural e o esperado aumento das importações de gás representam um revés nas tendências de menos de um ano atrás, quando o mundo sofria escassez de gás liquefeito e os preços dispararam nos Estados Unidos e em outros lugares. O GNL nos Estados Unidos custa pouco mais de US$ 14 por 100 metros cúbicos, contra um pico de mais de US$ 46 no ano passado. O petróleo hoje custa pouco mais de US$ 51 o barril, contra mais de US$ 145 em julho. Na média, os preços mundiais do gás natural liquefeito caíram mais de dois terços desde o último verão.


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