São Paulo, segunda-feira, 30 de março de 2009

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CIÊNCIA E TECNOLOGIA

Um ótimo ano para a ameaçada baleira-franca

Por CORNELIA DEAN

ILHA ST. SIMONS, EUA - Os biólogos já estavam havia horas no avião, indo e vindo sobre o oceano calmo. Haviam avistado golfinhos, tartarugas, um bando de gansos e até um tubarão-elefante -mas não o que estavam procurando.
Até que Millie Brower, que espiava concentradamente pela janela em forma de bolha adaptada à fuselagem, anunciou: "À esquerda, a cerca de 2 km". E lá embaixo estavam uma baleia-franca e seu filhote, mal aparecendo na superfície, relaxando na ondulação. Os pesquisadores, da Administração Oceânica e Atmosférica (NOAA) dos EUA e do Fundo da Vida Selvagem do Estado da Geórgia, participam de um intenso esforço no Atlântico Norte para monitorar as baleias-francas, uma das espécies mais ameaçadas e observadas da Terra. Conforme revelou posteriormente uma consulta a um banco de dados, a baleia era Diablo, nascida nestas águas há oito anos. Seu filhote -supostamente com duas semanas, 3,5 metros e duas toneladas- foi o 38? nascido neste ano, um recorde superado poucas semanas depois com um relato da NOAA sobre um 39? filhote. O recorde anterior era de 31 nascimentos, em 2001.
"Este é um ano abundante para os filhotes", disse Richard Merrick, oceanógrafo do serviço de pesca da NOAA. "É um bom sinal." Na verdade, é um dos muitos bons sinais, o que leva os pesquisadores a esperarem que, pela primeira vez em séculos, as coisas comecem a melhorar para as baleias-francas. Em dezembro, pesquisadores da NOAA avistaram um aglomerado excepcionalmente grande de baleias-francas no golfo do Estado do Maine. Um mês depois, um espécime apareceu nos Açores pela primeira vez desde o início do século 20. E no ano passado, provavelmente pela primeira vez desde o século 17, nenhuma baleia-franca morreu no Atlântico Norte devido à atividade humana.
As baleias-francas, que podem crescer até 17 metros de comprimento e pesar 65 toneladas, eram as "francas" favoritas dos baleeiros nos séculos 18 e 19, por serem ricas em óleo e barbatanas. Além disso, nadam devagar, perto da costa, e boiam quando morrem. As baleias são tão poucas e tão diferentes entre si que os pesquisadores as identificam não só por números, mas por apelidos. Há muito tempo foram extintas pela caça nas águas europeias, e em 1900 provavelmente só restavam cerca de cem delas na costa da América do Norte.
Desde então, os números da espécie aumentaram muito lentamente. A NOAA estima que haja cerca de 325, embora cientistas dentro e fora da agência suspeitem que possam ser até 400. A caça é mundialmente proibida desde 1935, mas apesar disso os pesquisadores já não tinham esperanças de voltar a ver uma população saudável de baleias-francas enquanto elas continuassem sendo mutiladas por navios e equipamentos de pesca.
Porém, nos últimos 4 ou 5 meses tem havido uma série de boas notícias, segundo o Aquário da Nova Inglaterra, um centro de pesquisas da baleia-franca. Recentes mudanças nas rotas marítimas parecem ter reduzido as colisões, e no ano passado o governo Bush reduziu o limite de velocidade para grandes embarcações em águas costeiras, onde as baleias se reúnem.
As autoridades pesqueiras dos EUA começam a impor restrições nos equipamentos de pesca, para reduzir as chances de que mamíferos marinhos fiquem presos em linhas e redes. O Canadá cogita medidas similares. "Há sinais de recuperação", disse Merrick, que, no entanto, alerta que é cedo para dizer que as baleias estejam fora de perigo. As temporadas de procriação são conhecidas por seus altos e baixos. A presença de uma única baleia nos Açores não prova que a espécie esteja recolonizando seus antigos redutos. Ao avaliar o valor de uma espécie, "cada indivíduo classifica isso por conta própria", disse Barb Zoodsma, bióloga da NOAA na costa sudeste dos EUA. Mas, se as baleias-francas sumirem, afirmou, "seria uma grande perda para as futuras gerações".


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