São Paulo, segunda-feira, 30 de maio de 2011

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ARTE & ESTILO

Orquestras internacionais famosas não são o que parecem

Por DANIEL J. WAKIN
Todos os anos, orquestras internacionais com nomes exóticos ou que soam impressionantes atravessam os EUA, fazendo concertos. Mas elas nem sempre são o que parecem.
A Filarmônica de Dublin que se apresentou há dois anos em quase 50 cidades? É composta principalmente por búlgaros. A Orquestra Sinfônica da Rádio Estatal de Moscou? Os músicos são freelancers. A Orquestra de Estado de São Petersburgo, conhecida como orquestra "Tchaikovski"? O homem anunciado como sendo seu principal regente convidado nunca ouvira falar dela.
Na verdade, as plateias, com frequência, não sabem o que vão ouvir. Muitos desses grupos são conjuntos musicais heterogêneos ou que têm pouca reputação.
Uma das responsáveis por levar essas orquestras em turnês é a Columbia Artists Management Inc, uma das mais prestigiosas agências de música clássica. Andrew S. Grossman, vice-presidente sênior da agência e produtor de turnês, é uma figura influente no negócio da música erudita.
Antigos colegas dele, concorrentes e pessoas que já trabalharam com Grossman o descrevem como sendo arguto, brilhante e charmoso. Eles também apontam para algo que parece ser um padrão repetido de fotos publicitárias enganosas, biografias alteradas em programas de concertos e substituições de última hora.
Grossman, 62, não respondeu a pedidos de declarações. Ronald A. Wilford, o executivo-chefe da Columbia, negou a divulgação de informações enganosas. "É um pouco de ingenuidade supor que não possa haver instrumentistas internacionais em uma orquestra", disse ele. "Isso tudo é uma bobagem."
O mais importante, argumentou a agência, é que as orquestras levam música erudita ao vivo, a custos permissíveis, a pequenas cidades que costumam ficar de fora das turnês das orquestras. "Nós vamos a essas comunidades que desejam muito nossa presença", disse Tim Fox, presidente da Columbia Artists Management.
Os apresentadores locais de concertos apreciam o prestígio dado por nomes internacionais e os preços, que são, em média, menos da metade dos valores cobrados por grandes orquestras, cujos cachês podem passar de US$ 100 mil por um concerto.
Críticos dizem que a Columbia aufere grandes lucros. Um contrato para levar aos EUA a Opole -Filarmônica da Polônia- neste inverno americano previa que os promotores dos concertos pagassem à Columbia uma média de US$ 41,5 mil por concerto ou US$ 1,9 milhão por 46 concertos. A Columbia, segundo o documento, pagaria aos 90 músicos o total de US$ 390 mil. A orquestra arcaria com seus próprios custos de transporte aéreo. Com o US$ 1,5 milhão restante pago à Columbia, a agência pagaria as viagens dentro do país, hospedagem e promoção, ficando com o que sobrasse.
Jane Schumacher, diretora-executiva do Centro Etherredge de Artes Cênicas da Universidade da Carolina do Sul, em Aiken, se recorda de ter ficado surpresa em 23 de janeiro de 2009, quando foi ao backstage antes de um concerto da Filarmônica de Dublin.
"Fui para lá e falei, brincando, 'alguém daqui vem de fato da Irlanda?'." Os músicos eram, em sua maioria, búlgaros. Schumacher disse que ficou preocupada. "A gente sabe que corre um risco quando transmite uma impressão equivocada ao público", explicou.
Para conseguir vistos para os músicos, a Columbia, primeiramente, precisou enviar os pedidos de visto à Federação Americana de Músicos, para obter a aprovação dela. Mas o sindicato de músicos disse que suas objeções valeram pouco. A palavra final, quando se trata de emissão de vistos, é do Departamento de Estado.
As evidências apresentadas pela Columbia à federação de músicos incluíam uma lista de 75 músicos permanentes, quase todos os quais cidadãos irlandeses. Mas o grupo cujos vistos foram aprovados foi muito diferente disso. A maioria era formada por búlgaros.
Para o diretor musical da Filarmônica de Dublin, Derek Gleeson, que vive na Califórnia, a composição da orquestra, divulgada primeiramente pelo jornal "The Irish Times", não vem ao caso. As dificuldades econômicas de 2008 fizeram com que fosse caro contratar músicos irlandeses. Em uma turnê da orquestra na China, no verão passado, quase todos os músicos teriam sido irlandeses, disse ele. "Músicos vão e vêm."
Alguns promotores de concertos elogiam Grossman por proporcionar concertos de qualidade. Ray Hair, presidente da federação de músicos, discorda. "As plateias estão sendo enganadas", disse ele. "Pensam que estão comprando um ingresso para um grupo musical que possui pedigree legítimo. Mas a orquestra não o tem."


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