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Afinal, que país é este?
A Folha tem feito ótimo trabalho na cobertura da eleição
presidencial americana deste
ano. Colocou vários repórteres
do primeiro time por longo período nos EUA, tem sido mais
imparcial que a imprensa brasileira em geral (e até do que
muitos órgãos da imprensa
americana), demonstrou inteligência e criatividade em diversos momentos, vem dando
bastante espaço ao assunto e
ênfase à análise aprofundada
de temas relevantes.
Mas errou ao dar papel de
proa à jornalista americana
Kathleen Parker, designada como colunista neste encerramento de campanha.
A julgar pela leitura de seu
texto de estréia na sexta-feira,
o que ela pode oferecer está fora do alcance de compreensão
do brasileiro médio. Não por
deficiência dele; simplesmente
por ser brasileiro.
Ele pode não saber quem é
Gretchen Wilson, uma das citações culturais básicas do artigo.
O texto diz que é uma "cantora
country". E daí?
George, o Curioso, é outra referência essencial do artigo. Quem
sabe que se trata de personagem
de uma série de livros clássicos da
literatura infantil americana, um
macaco inteligente e curioso que
faz trapalhadas e coloca seu dono
em apuros?
E os versos "Dobra, dobra, labuta e provação/Arde fogo e borbulha caldeirão" que surgem no
meio do artigo? Como saber na
hora que são de Shakespeare em
MacBeth (ato 4, cena 1, a cena das
três bruxas) e populares em histórias contadas para crianças no dia
31 de outubro?
Sem falar na analogia básica do
texto, que é a do Halloween. Será
que o leitor médio do jornal sabe
de fato o que é essa festa popular
americana? O que ela significa para o imaginário coletivo do país?
No rodapé do artigo, ressalta-se
que Parker o escreveu para a Folha. Não parece que ela tenha atinado que este jornal é publicado
no Brasil e que o seu público não
usa os mesmos códigos culturais
dos Estados Unidos.
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