São Paulo, domingo, 02 de novembro de 2008

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Afinal, que país é este?

A Folha tem feito ótimo trabalho na cobertura da eleição presidencial americana deste ano. Colocou vários repórteres do primeiro time por longo período nos EUA, tem sido mais imparcial que a imprensa brasileira em geral (e até do que muitos órgãos da imprensa americana), demonstrou inteligência e criatividade em diversos momentos, vem dando bastante espaço ao assunto e ênfase à análise aprofundada de temas relevantes.
Mas errou ao dar papel de proa à jornalista americana Kathleen Parker, designada como colunista neste encerramento de campanha.
A julgar pela leitura de seu texto de estréia na sexta-feira, o que ela pode oferecer está fora do alcance de compreensão do brasileiro médio. Não por deficiência dele; simplesmente por ser brasileiro.
Ele pode não saber quem é Gretchen Wilson, uma das citações culturais básicas do artigo. O texto diz que é uma "cantora country". E daí?
George, o Curioso, é outra referência essencial do artigo. Quem sabe que se trata de personagem de uma série de livros clássicos da literatura infantil americana, um macaco inteligente e curioso que faz trapalhadas e coloca seu dono em apuros?
E os versos "Dobra, dobra, labuta e provação/Arde fogo e borbulha caldeirão" que surgem no meio do artigo? Como saber na hora que são de Shakespeare em MacBeth (ato 4, cena 1, a cena das três bruxas) e populares em histórias contadas para crianças no dia 31 de outubro?
Sem falar na analogia básica do texto, que é a do Halloween. Será que o leitor médio do jornal sabe de fato o que é essa festa popular americana? O que ela significa para o imaginário coletivo do país?
No rodapé do artigo, ressalta-se que Parker o escreveu para a Folha. Não parece que ela tenha atinado que este jornal é publicado no Brasil e que o seu público não usa os mesmos códigos culturais dos Estados Unidos.



Texto Anterior: O que faz o eleitor decidir o voto
Próximo Texto: Para ler
Índice


Carlos Eduardo Lins da Silva é o ombudsman da Folha desde 22 de abril de 2008. O ombudsman tem mandato de um ano, renovável por mais dois. Não pode ser demitido durante o exercício da função e tem estabilidade por seis meses após deixá-la. Suas atribuições são criticar o jornal sob a perspectiva dos leitores, recebendo e verificando suas reclamações, e comentar, aos domingos, o noticiário dos meios de comunicação.
Cartas: al. Barão de Limeira 425, 8º andar, São Paulo, SP CEP 01202-900, a/c Carlos Eduardo Lins da Silva/ombudsman, ou pelo fax (011) 3224-3895.
Endereço eletrônico: ombudsman@uol.com.br.
Contatos telefônicos: ligue 0800 0159000; se deixar recado na secretária eletrônica, informe telefone de contato no horário de atendimento, entre 14h e 18h, de segunda a sexta-feira.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.